Virginia
Spinassé (*)
Nos dias 25 e 26 de novembro de
2013 vivenciamos em Maceió-AL o X CONGRESSO ALAGOANO DE GESTÃO DE PESSOAS da
ABRH.
O tema - CULTIVAR A GESTÃO:
DESENVOLVENDO PESSOAS E AS ORGANIZAÇÕES – norteou todas as palestras e debates
inspirando os participantes a se engajarem nesse momento tão especial da gestão
nas organizações.
Evidentemente que para se
cultivar a gestão é necessário que aconteça a transformação do ambiente de trabalho. Rui Shiozawa (1), da
organização Great Place to Work (responsável
pela pesquisa sobre as Melhores Empresas para Trabalhar publicada pela Revista
Época), tratou muito bem da questão mostrando o caminho para a transformação: inspirar os funcionários falando a
verdade e escutando-os com sinceridade; desenvolver
as pessoas para as suas vidas, tanto pessoal como profissionalmente e
reconhecer e agradecer pelo bom trabalho; compartilhar
os problemas, soluções e os resultados e vitórias, contratando pessoas que
se adaptem à cultura da organização. Tudo isso levará as organizações a ter um
ambiente de confiança, onde é
possível trabalhar feliz.
Fundamental para essas ações
chegue até os funcionários é a comunicação.
Cibelle Pinheiro (2) e Ana Santiago (3) trataram do tema evidenciando a origem
e o sentido da palavra comunicação: é
do Latim communicatio, “ato de repartir, de
distribuir”, literalmente “tornar comum”, de communis,
“público, geral, compartido por vários”. “Comunhão”. Especificaram os tipos de
comunicação interna e frisaram que, dentro da organização deve ser falada a
mesma língua: da Portaria à Presidência. Quando isso acontece, as pessoas se sentem
valorizadas, parte do processo. Cultivar a comunicação é reconhecer a sua importância, trabalhar
as lideranças para um mesmo discurso e comunicar
através do diálogo transparente, da verdade e da coerência. As organizações
devem comunicar para obter resultados; devem comunicar também para
potencializar atitudes, especialmente devem enfatizar o poder do obrigado, do elogio e do sorriso.
Todo potencial organizacional
gerado pelo conhecimento e pelas atitudes das pessoas não pode e não deve ser
perdido quando essas pessoas deixa a organização. Uma técnica efetiva,
eficiente e eficaz de multiplicar o conhecimento e desenvolver pessoas tem sido
aplicada em muitas organizações, incluindo a gestão pública. Trata-se do Mentoring,
tema abordado por Paulo Erlich (4). Mentoring
é um processo de relacionamento humano em que uma pessoa com conhecimento em determinada
área, voluntariamente, estimula e influencia o desenvolvimento cognitivo e
social de outra pessoa nas organizações. É a velha técnica de “ensinar o pulo
do gato”, com uma nova roupagem. Paulo Erlich mostrou o programa de Mentoring desenvolvido pelo Tribunal de
Justiça de Pernambuco, onde os Juízes com mais tempo na profissão (Mentores) desenvolveram
e orientaram os novos Juízes (Mentorados). Entre os muitos benefícios do Mentoring pode-se se citar a
socialização, a aculturação, maior produtividade e resultados mais rápidos.
Além do caso do TJPE na gestão
pública, foi possível conhecer o caso da Natura e o seu arrojado programa de
Desenvolvimento de Lideranças, mostrado por Marcelo Madaraz (5). Em uma exposição
inspiradora, mostrou que só é possível desenvolver líderes quando a organização
sabe aonde quer chegar, tem objetivo e metas e clareza do que espera de seus
líderes. A Natura quer líderes que
realizem, inovem e inspirem. A partir desse parâmetro foi desenvolvido o
programa com duração de dois anos. Entre as atividades de desenvolvimento
aconteceram palestras com toda diversidade de líderes: desde o vendedor de
picolé a socialite; com filósofos,
gestores e fundadores da empresa; oficinas e visitas às comunidades carentes;
idas ao teatro e ao cinema, sempre com o foco nas competências necessárias ao
líderes Natura.
A Educação Empreendedora foi tema do painel formado por professores e
empreendedores como: Avelino Balbino (6), Antonio Oliveira (7), Maria da Penha
(8), mediados por Alberto Cabús (9). O debate girou em torno do que é
necessário para que se formem profissionais empreendedores. Antonio Oliveira deixou
claro que empreender é uma atitude diferenciada diante de fatores que poderiam
nos impedir de ir adiante, empreender é ter foco, ser inovador, ter capacidade
de convencimento, ver os problemas como oportunidades e ser eficaz nas
atividades. O mercado sente falta de profissionais empreendedores. O professor
Avelino lançou a proposta de se criar uma agenda para a educação empreendedora:
expor o empreendedorismo como uma profissão, estimular a atitude empreendedora
nas crianças, criar um ambiente empreendedor desde cedo. O processo de mudança
passa pela educação e é de longo prazo. Maria da Penha mostrou que o
empreendedorismo ainda é uma revolução silenciosa e que uma empresa sem intraempreendedores
não vai muito longe. A grande sacada é investir na educação empreendedora para
construir uma base de profissionais mais preparados para transpor desafios e
soluções.
Quando falamos em mudanças,
sempre lembramos que mudar é complicado e que as mudanças acontecem de dentro
para fora. Regina Migliori (10) deu uma aula excepcional sobre as Neurociências e o Desenvolvimento da
Inteligência Ética. Explanou sobre como é possível mudarmos os nossos
modelos mentais de comportamento. Foi simples entender como as estruturas de
pensamento se instalam e como podem ser transformadas. Precisamos usar a nossa
inteligência para entender globalmente a humanidade, buscar soluções e lidar
com os seres humanos de outra forma, despertando neles o seu melhor. Para mudar
cada modelo mental é necessário ter atenção
(interesse), fixação (repetição)
e evocação (memória). Só assim a aprendizagem acontece, alterando a
estrutura do cérebro e passando então a se tornar uma atitude. Um mundo melhor só nascerá se antes nascer dentro de nós. E
para isso precisamos usar a nossa estrutura cerebral a serviço de uma consciência
benéfica. Construir um novo modelo de vida depende da mudança de hábitos. Regina
ainda falou sobre a importância de nos conhecermos e sugeriu a prática da
meditação. Através dela é possível reduzir o estresse, a ansiedade, a
hiperatividade, melhorar os níveis de aprendizagem e qualidade nos
relacionamentos.
Especialmente na vida
profissional estamos sempre em busca do sucesso.
Carlos Henrique Amaral de Souza (11) abordou o tema, questionando o que
realmente é o sucesso. Mostrou que o sucesso não é experiência individual, só
acontece no coletivo. É a consciência do presente direcionando nossas ações. Sucesso é quando a ação que fazemos se
multiplica, é a consequência do que nos motiva a agir. Então devemos ter
apenas um medo na vida: o de ser a causa de sofrimento para alguém. Alguns obstáculos
às experiências de sucesso: não persistir, não estar satisfeito (motivado), não
nos sentirmos parte do processo. Só somos felizes quando possibilitamos ao
outro ser feliz. Isto é sucesso!
Como educar e desenvolver novos
líderes no mundo atual? Márcia Vespa (12) falou sobre a questão da resistência
das pessoas aas mudanças e das diversas gerações que estão no mercado de
trabalho, com formas de agir bem distintas e que tem que trabalhar e gerar
resultados. Lembrou que quando conseguimos compreender o padrão mental de cada
geração fica muito mais fácil o relacionamento, o desenvolvimento dos
comportamentos e a busca pelos resultados. Nesse contexto o ato de planejar é
indispensável e novamente é trazida à tona a necessidade primordial: as organizações precisam ter claro onde
querem chegar, como querem chegar, e com que profissional pretendem fazer isso.
Planejar juntos e estimular o autoconhecimento, a reflexão e participação de
todos são passos decisivos no processo de educação dos líderes.
O painel de gestão pública com o
Eduardo Seton – Secretário de Ciência e Tecnologia do Estado de Alagoas, Luiz
Geraldo – gestor da UNEAL – Universidade Estadual de Alagoas e Fábio Leão –
gestor da DESENVOLVE ALAGOAS – Agência de Fomento do Estado, mediado por Robson
Nunes – dos CORREIOS, debateu o caminho
para a governança pública. Ficou evidente que o grande desafio para a
gestão pública passa pela CONFIANÇA. Ela
precisa ser resgatada e isso passa pela elevação da autoestima do servidor
público e pela motivação. A gestão pública precisa formar líderes evoluídos espiritualmente,
com valores éticos e morais fortes. Os líderes da gestão pública necessitam
fazer com que as pessoas se engajem no processo de melhorias e de mudança
comportamental. É importante nesse contexto que a hélice tríplice Governo – Universidade – Mercado se torne
uma engrenagem que funcione, com cada um tentando se colocar no lugar do outro
para entender as dificuldades e então fazer com que essa engrenagem produza um
produto de qualidade. É necessário que
aqueles que não querem fazer nada na gestão pública saiam da frente daqueles que
querem fazer diferente. Com o suporte do governo e com as universidades
entendendo e procurando suprir as necessidades do mercado, muita coisa pode ser
mudada. É necessário ter visão de futuro, analisar cenários para formar
gestores que atendam os anseios da sociedade.
Em meio a tudo isso, temos a ascensão
cada vez maior aos postos de gestão. Leyla Nascimento (13) – Presidente da ABRH
Nacional veio responder a pergunta: mulher
na gestão – tem diferença? Ficou claro que as organizações não estão mais
olhando a questão de gênero e sim a competência e a capacidade de atingir
resultados. Mesmo assim mulheres ganham menos que os homens em cargos iguais e
ainda o número de mulheres gestoras é muito inferior ao número de homens. É uma
mudança cultural na qual a mulher ainda enfrenta alguns desafios. Algumas
diferenças na gestão das mulheres se devem ao fato de que a mulher está mais
acostumada a líder com diferentes cenários em apena um dia e sabe lidar com
todos eles. A mulher usa mais a percepção, a intuição, faz várias atividades ao
mesmo tempo e está acostumada ao planejamento e controle devido a lidar com
isso como dona de casa. Homens e Mulheres na gestão precisam desenvolver cada
vez mais a confiança e a chave para isso é a clareza de objetivos para que a
mudança cultural aconteça.
Para colocar em prática o
aprendizado e mudar nossos modelos mentais, precisamos estar saudáveis e
equilibrados emocionalmente. José Rubens D’eliá (14) – Preparador Físico de
vários atletas vencedores - mostrou a importância dos exercícios físicos em
nossa vida. Em um bate-papo informal e prazeroso falou sobre os vários tipos de
exercício, como se deve fazer para escolher o que mais se adéqua à realidade e
a necessidade de cada um e da importância de termos um tempo para nós mesmos.
Ficou claro que sem saúde nada é possível e que na agenda diária da vida nós somos a prioridade!
(*)
Virginia Spinassé - Especialista em Gestão de Pessoas, Consultora de Empresas e
Professora de Graduação e Pós-Graduação, Membro da ABRH-AL.
(1) Rui Shiozawa - CEO do Instituto Great Place to Work (GPTW)
(2) Cibelle Pinheiro – Consultora, Doutoranda
em Ciências da Comunicação e tem especialização em Comunicação Estratégica e
Organizacional pela Universidade do Minho, em Portugal.
(3) Ana Santiago - Doutoranda em Ciências da
Comunicação pela Universidade do Minho, além de possuir larga experiência como
formadora e palestrante internacional nas áreas de Imagem, Comunicação e Desenvolvimento
Pessoal. Ela é docente de Relações Públicas no ensino superior desde 2005, e
coach profissional desde 2010.
(4) Paulo Erlich – Consultor em Gestão da Promoção da
Saúde Corporativa e Diretor da Lumina Consultoria. Pós-graduado em Administração
pela UPE.
(5) Marcelo Madaraz – Gerente de Desenvolvimento de
Lideranças da Natura.
(6) Avelino Balbino – Diretor da AB Escola de
Negócios, Economista
(7) Antonio Oliveira – Atual Secretário de Esportes e
Lazer de Maceió, professor universitário
(8) Maria da Penha – Presidente da ABRH-PB, Consultora
de Empresas
(9) Alberto Cabus – Diretor da empresa Fika Frio
(10)Regina Migliori - Trabalha em projetos de
desenvolvimento humano centrados em valores e sustentabilidade com empresas,
governos, instituições de educação, e organismos internacionais.
(11) Carlos Henrique Amaral de Souza – Monge Budista
(12) Márcia Vespa – Diretora de Educação Corporativa
da Leme Consultoria. Psicóloga.
(13) Leyla Nascimento – Presidente da ABRH Nacional,
Atua há mais de 20 anos em trabalhos voltados para o desenvolvimento de RH.
(14) José Rubens D’eliá – formado em Educação Física e
em Administração. Pós-graduado em Fisiologia do Exercício. Comentarista da Rede
Globo.