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terça-feira, 20 de março de 2012

ANO NOVO EM MARÇO?

Quando o Sol ilumina a terra inteira com a mesma intensidade, diversas tradições comemoram a chegada de um Novo Ano

Naw-Rúz: tradição milenar celebrada mundialmente por milhões de pessoas

O antigo festival persa do Ano Novo sobreviveu à conquista árabe e, muitos séculos depois, continua a ser comemorado por diversas culturas e comunidades religiosas, como o Zoroastrianos, os Sufís e os Bahá’ís. É realizado no primeiro dia do ano solar corresponde ao equinócio de outono no hemisfério sul e de primavera vernal no hemisfério norte.

Abdu’l-Bahá explica, em uma de Suas epístolas, o fenômeno astrológico observado nesse dia: “Neste momento, o sol aparece no meridiano e dia e noite são iguais. Até o dia de hoje, o Pólo Norte estava escuro. Hoje o sol aprece em seu horizonte. Hoje o sol nasce e se põe na linha equatorial e os dois hemisférios são igualmente iluminados.”

“Este dia sagrado, quando o sol ilumina igualmente a terra inteira, se chama o equinócio”, explica 'Abdu'l-Bahá, “e o equinócio é o símbolo do Manifestante de Deus. O Sol da Verdade se levanta no horizonte da Misericórdia Divina e dele emanam seus raios. Este dia é consagrado à comemoração disso... Quando o sol aparece no equinócio, provoca movimento em todas as coisas. O mundo mineral é posto em moção, as plantas começam a brotar, o deserto é transformado em planície, as árvores florescem e todas as coisas viventes respondem, inclusive os corpos dos animais e dos homens.”

“O subir do sol no equinócio é o símbolo da vida... [É] o símbolo dos Divinos Manifestantes de Deus, pois a ascensão do Sol da Verdade no Céu da Bondade Divina estabeleceu o sinal de Vida para o mundo. A realidade humana começa a viver, nossos pensamentos são transformados e nossa inteligência é despertada. O Sol da Verdade dá Vida Eterna, assim como o sol físico é a causa da vida terrestre”, declara Ele.

Renovação espiritual

O ano de 2012 na Era Cristã corresponde ao 169º ano na Era Bahá'í. O calendário instituído pelo Báb, Profeta Precursor da Fé Bahá'í, é composto por 19 meses, cada um com 19 dias. Os meses recebem nomes correspondentes a um atributo de Deus, assim como ocorre com cada um de seus dezenove dias. O primeiro dia e o primeiro mês são denominados Esplendor (Bahá, em árabe), e assim, o primeiro dia do ano é chamado o dia de Esplendor no mês de Esplendor. O Báb o chamou de Dia de Deus, e associou-o "Àquele que Deus tornará Manifesto", uma figura messiânica em Seus escritos. Os dezoito dias subsequentes do primeiro mês foram associados às dezoito Letras da Vida, os apóstolos do Báb, prevendo uma celebração que duraria dezenove dias.

Os bahá'ís acreditam que Bahá'u'lláh é o Messias prometido pelo Báb. Ele reafirmou o calendário e instituiu o Naw-Rúz como dia sagrado. De acordo com Seus ensinamentos, O Naw-Rúz ocorre no dia seguinte ao término do jejum bahá'í, e está associado ao Máximo Nome de Deus. É um festival para aqueles que observaram o jejum.

A noção simbólica da renovação do tempo em cada dispensação religiosa foi feita explícita pelos escritos do Báb e de Bahá'u'lláh, e o calendário e ano novo tornaram essa metáfora espiritual mais concreta. `Abdu'l-Bahá explicou o significado do Naw-Rúz em termos da primavera e da nova vida que ele traz. Ele explicou que o equinócio é um símbolo dos Manifestantes de Deus, que inclui Jesus, Muhammad, o Báb e Bahá'u'lláh, entre Outros mais antigos e Os que virão futuramente. A mensagem proclamada por esses Mensageiros é como uma primavera espiritual, celebrada durante o Naw-Rúz.

Um pouco de tradição

Até hoje, várias famílias no Irã costumam seguir a tradição de se levantar cedo de manhã no dia 20 de março para buscar água em poços e córregos. Trazida em jarros, a água é então derramada sobre as pessoas, que se vestem com roupas novas e servem comidas especiais para celebrar a chegada do Naw-Ruz.

Um mês antes ocorre a “Khouneh Tekouni” (que, literalmente, significa “sacudir a casa”), quando as casas recebem uma limpeza completa na qual móveis antigos são substituídos por uma nova decoração. A mesa decorativa é posta com uma semana de antecedência, sendo enfeitada com uma cópia do Livro Sagrado, um espelho, velas, vasos com brotos verdes, flores, frutos, moedas, pão, ovos cozidos coloridos pintados no estilo oriental e mais sete artigos cujos nomes em persa comecem com a letra "s". Todos estes são alimentos ou símbolos de riqueza, crescimento e fertilidade.

Na noite anterior ao Naw-Rúz, as famílias se reúnem em torno de fogueiras ao ar livre, todos vestidos com o seu melhor traje. Sentados à mesa, esperam ansiosamente o anúncio – no rádio ou na televisão – do momento exato do equinócio vernal. Após recitar as orações reveladas para este dia sagrado, os familiares se saúdam com um beijo e o desejo de um Feliz Ano Novo.

No mundo ocidental, a celebração assume características das culturas em que está inserida – e as comunidades bahá'ís brasileiras não ficam de fora dessa tradição. É comum a realização de eventos comunitários para os quais são convidados familiares e amigos. A programação é geralmente composta por um momento de orações seguido de apresentações artísticas e comidas diversas. Palestras, dança e fogos de artifício (comuns no Réveillon) também podem fazer parte desta comemoração.

Para saber mais sobre a Fé Bahá'í acesse: www.bahai.org.br

sábado, 10 de março de 2012

UMA SEPARAÇÃO

Leiam abaixo a sinopse do filme iraniano "Uma Separação", escrito por Sam Cyrous - graduado e mestre em Psicologia, membro do movimento TEDx em Goiânia, e integrante do GT da Paz da Prefeitura Municipal de Goiânia

Uma separação


O filme A Separação (Farhadi, 2011), que ganhou há uns dias o Oscar de melhor filme em língua estrangeira, aborda a questão de um casal cuja esposa (Simin) deseja emigrar para dar melhores condições à filha e cujo marido (Nader) não quer abandonar o país por causa do pai que sofre da degenerativa doença de Alzheimer. Até aí um filme normal, não fossem os excelentes atores e equipe do país da Revolução Islâmica, quebrando mitos sobre o Irã.

O filme retrata uma típica mulher iraniana moderna, maquiada, de cabelo pintado, dona do seu nariz (Simin) que age conforme a sua consciência pelo bem daqueles que mais ama, ao mesmo tempo que nos traz um homem que não é só a barba e a raiva que os jornais traspassam, mas um homem (Nader) que ri e brinca, que respeita às mulheres, que se preocupa, que não sabe o que fazer, que se frustra, que chora. Ele nos traz também personagens comuns que não conseguimos nem amar nem odiar, porque são pessoas como nós, tentando viver apesar das dificuldades, do desemprego, da crise econômica, da saúde. Pessoas como Razieh que tomam decisões certas e erradas ao mesmo tempo. Este é um dos encantos do filme: ele toca em nós e faz-nos pensar nas nossas decisões, mas ele vem de outra cultura, de um outro mundo que desconhecemos.

A Separação de Nader de Simin (título original persa) mostra o lado bom da milenar arte persa do tárof, no qual todo persa é educado para ser extremamente cortês em todas as circunstâncias. Isso se vê quando o Nader expulsa de sua casa pela primeira vez a empregada contratada para tomar conta do seu pai: ele diz palavras como “por favor” ou até pede desculpas por lhe tocar… Isso se vê até nas ofensas mútuas, quando se atinge ao grau máximo de chamarem um ao outro de “deshonrado” e “mal-educado” ou, pior ainda, “mentiroso” quando a pessoa jura pela alma do Imám Oculto, o Prometido esperado pelos xiitas.

O filme nos traz também outra separação: aquela dos persa com os árabes, quando por exemplo Nader estudando com a filha diz que determinada palavra é árabe e não importa quem tenha dito que ela pode ser utilizada naquele contexto, pois “errado é errado, não importa quem o diz”. E se temos uma separação há uniões: o próprio Nader usa no início do filme um pouco de inglês no meio do seu persa, e Simin quer sair para outro país que acabou de lhes conceder um visto. A união ao ocidente é algo que deve ter encantado também à Academia de Hollywood, dando um Oscar que também tem muito de político, às vésperas de outro momento eleitoral que ainda pode ter muito de conturbado, não fosse o fantasma do Regime um dos personagens mais presentes no filme.

Talvez a Academia devesse ter indicado o fantasma do Regime Islâmico do Irã, para o Oscar de melhor Ator Coadjuvante. Lá estava ele no tribunal que diz que os temas da esposa “são pequenos”, lá estava ele no medo das mulheres em andar de cabelo destapado, lá estava ele em colocar em causa o que uma mulher dizia — ao dar a voz a alguém dizendo “porquê sair?” do Irã —, lá estava ele no desemprego, no caos da cidade, no hospital e no tribunal, lá estava ele no medo de uma “enfermeira” que não sabia se poderia trocar as calças de um paciente homem com alzheimer que perdera o controle e se sujara (e que teve que telefonar a alguém para saber se seria errado ou não trocar as calças).

Mas Farhadi, o diretor, conseguiu também uma outra separação. Simin, que será talvez descendente simbólico de heroínas que há dois séculos tiraram o véu opressor do estado, assume-se como a verdadeira heroína desta história: importa-se com a verdade e a honra, ao mesmo tempo que se importa com o bem-estar de amigos e supostos inimigos.

Uma Separação (como foi traduzido no inglês) mostra que qualquer iraniano é capaz de, apesar de viver no Irã, ser digno dos mais nobres atos. A separação separa, na verdade, a opressão estatal da liberdade das pessoas. Mesmo no Irã que analistas internacionais tentam entender, existem pessoas justas, e de boa índole, que nada têm a ver com o seu governo. A separação mostra isso, sem mostrá-lo!