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terça-feira, 18 de dezembro de 2012

O FIM DO MUNDO!



Um mundo que morre e outro que nasce

Por Gabriel Marques
 
Segundo as teorias que se popularizaram nos últimos anos e que ganharam força nestes últimos meses, o fim do mundo será mesmo agora em 21 de dezembro de 2012. Faltam, portanto, alguns pouquíssimos dias ou apenas algumas horas! 

Embora as Escrituras cristãs e de outras religiões falem da ocorrência do apocalipse, no fim dos tempos, as teorias dos últimos meses são baseadas nas interpretações do calendário Maya.
Os maias viveram na América Central, no período pré-hispânicos e tinham um calendário bastante preciso, que além de marcar a passagem do tempo, também previa a ocorrência das estações, de certos eventos que, então, orientavam sua civilização. O tempo para os Maya era dividido em eras e estas compreendendo treze períodos chamados ‘baktunes’, de aproximadamente 400 anos cada. O fim de uma era significava apenas o início de outra, numa visão cíclica e evolutiva; algo comum a vários outros povos e religiões. A inscrição encontrada num dos monumentos do sitio arqueológico de Tortuguero, no Sudoeste do México, fazia menção à data de 4 Ajaw 3 K’ank’in, que segundo os cálculos de diferentes arqueólogos apontavam para o dia 21 de dezembro de 2012. Isso levou, então, a um grupo de místicos a vincular tal data a uma visão apocalíptica, mesmo quando várias outras placas com inscrições descritivas do calendário Maya indique claramente apenas a renovação das eras, nada tendo a ver com o fim do mundo físico.
Vários outros fatores, entretanto, fizeram aumentar as teorias do fim do mundo. Dentre estes estão a aproximação do asteroide Toutatis – uma imensa rocha espacial viajando em direção ao planeta terra; a mudança do polo magnético do planeta, a maior ocorrência de desastres naturais, incluindo tornados e furacões, secas e inundações e terremotos cada vez mais devastadores. Crescentes são os grupos religiosos preocupados com o emergir destes sinais, muitos dos quais apontados nas Escrituras Cristãs como arautos do apocalipse, o fim dos tempos!

O fim dos tempos anunciado seja nas escrituras cristãs, budistas ou islâmicas, entretanto, não se referem ao fim do mundo físico, mas à renovação do modo de vida ou de uma nova era nos afazeres humanos, devido ao aparecimento do Messias ou do Santo Manifestante de Deus.

Como se vê, todas as profecias indicam que os sinais exteriores na natureza revelam também as correlatas mudanças internas que deverão ocorrer na vida humana, para que se ajuste ao novo tempo. Sabidamente as estações do ano têm sua influência não apenas na natureza, mas também em nossas vidas. Assim, na primavera, as nuvens derramam suas chuvas, o ar é agradável, o mundo se renova e uma nova roupagem veste as plantas, aparecendo um novo espírito vivificador.
         No verão, com o aumento do calor, dá-se o crescimento e desenvolvimento das potencialidades ocultas, aparecendo os frutos e indicando o tempo da colheita. O outono indica uma transição tumultuosa, na qual árvores antes viçosas e verdejantes murcham, esmaecendo-se as cores e trazendo pouco a pouco um ar sombrio a terra. Segue-se, então, o inverno com suas tempestades, nevadas, granizos, frio e morte. Essa sequencia de claras mudanças no mundo visível não é o fim do mundo, sinalizando apenas o fim de um ciclo solar ou daquilo que comumente aprendemos a chamar de ano.
            O ano ou ciclo solar é astronomicamente fixado e matematicamente calculado como sendo o tempo da rotação da terra ao redor do sol. Este período de 365,242199 dias, isto é, 365 dias + 5 horas + 48 minutos + 47 segundos e, tem sido dividido em nosso calendário ocidental (gregoriano) como tendo 12 meses de aproximadamente 30 dias cada um. O dia tem sido fixado como tendo 24 horas, cada uma delas com 60 minutos e cada um deste, por sua vez, com 60 segundos. Cabe lembrar, entretanto, que existem outros calendários atualmente em uso no mundo como o judeu (estão no ano 5.773), o islâmico (estão no ano 1.434 ) ou o mais recente, o bahá’í (estão no ano 167).
         Além desta divisão do ano em meses, ele está também dividido em estações ou fases (primavera, verão, outono e inverno), devido aos diferentes efeitos da incidência da luz solar sobre o planeta, resultantes do eixo de rotação da terra em relação ao plano orbital. Ainda assim, de maneira diferente do mundo ocidental, onde o ano tem quatro estações, países como a China possuem cinco estações; a Índia três estações. Já alguns países africanos apenas duas estações – a das chuvas, período quente e úmido, e o do cacimbo, estação seca e mais fresca pela noite. Isso é bem parecido com o clima da região norte e nordeste do Brasil.
Paralelo e para além das mudanças no mundo físico encontram-se a ocorrência de ciclos espirituais, cuja influência sobre a vida dos seres humanos é objeto de estudo e aprofundamento por todos os movimentos espiritualistas. Aqui, a consciência de que ciclos espirituais igualmente ocorrem e se renovam é fato consumado. O aparecimento do Santo Manifestante de Deus ao longo da história humana – Abraão, Moisés, Zoroastro, Buda, Jesus, Maomé, o Báb, Bahá’u’lláh... – representam o reaparecimento da primavera espiritual. Nas palavras de ‘Abdu’l-Bahá, o Mestre da doutrina bahá’í, esta estação “é o nascer do Sol da Realidade. O espírito humano reanima-se, o coração refresca-se e reforça-se, a alma torna-se mais pura; a existência recebe um novo impulso, a essência do homem rejubila-se, cresce, progride em virtudes e perfeições.” 
Os fundadores das grandes religiões foram cada um os educadores da infância coletiva do planeta, agentes de um processo civilizatório, cujos efeitos cumulativos de suas sucessivas missões trouxeram a humanidade ao ponto atual. Cada grande religião teve seu período de primavera, verão, outono e inverno espiritual, antes que uma nova era pudesse ter seu início. O ponto de referencia atual, na visão bahá’í, situa-se entre o fim do longo e tenebroso inverno da civilização islâmica e o início da primavera representado pelo aparecimento de Bahá’u’lláh – o Manifestante da era da maturidade da humanidade. 
Estando, portanto, no ponto de transição entre duas estações, podemos presenciar sinais e influências de ambas. Estamos na interface entre o fim de um mundo e o início de outro. As mudanças serão graduais e não ocorrem da noite para o dia. Assim, embora no âmbito da nova primavera espiritual já se vislumbre uma ressurreição universal, um novo período de progresso, de alegria e felicidade da Graça Divina, este é também um tempo de lamentação, é o dia do juízo, é a hora do caos e da angústia. Para os estudiosos da astrologia nos encontramos agora na Era de Peixes, mas na qual já se sente os efeitos visíveis da aproximação da Era de Aquários – uma era aclamada como a da fraternidade universal, com acelerados desenvolvimentos nos campos científicos, intelectual, social e principalmente espiritual.
Outro aspecto que é preciso levar em conta é o fato de o progresso não se dá apenas pela repetição continuada de estações, ciclos e eras. O progresso ocorre ao se aprimorar e avançar o conhecimento, ao se lapidar a aprendizagem individual e coletiva, num acúmulo sucessivo do conhecimento e do desenvolvimento das potencialidades humanas. Existem, portanto, estações, ciclos e eras universais que se renovam e avançam como por elipses ascendentes, nos quais círculos cada vez maiores de conhecimento ajudam no desenvolvimento do imenso potencial humano, desdobrando-se e revelando-se em novas capacidades.
Segundo os bahá’ís, “o homem alcançou o grau máximo da materialidade, e o começo da espiritualidade, ou seja, o fim da imperfeição e o princípio da perfeição. Está no último grau da escuridão e no começo da luz”. Por isso, segundo estes, foi dito que “no estado humano são assinalados o fim da noite e o princípio do dia; isto é, o homem é a soma de todos os graus da imperfeição e possui também os da perfeição. Fazer este lado predominar sobre aquele é o que visa o educador em seu esforço de orientar a alma humana.”.
É justamente esta maior iluminação nos afazeres humanos (vinculada também ao concomitante avanço nos campos da ciência e da tecnologia) o que tem feito emergir diante de nossa face, isto é, vir à tona tantas notícias sobre corrupção – ativa e passiva, sobre a debilidade da justiça nos afazeres humanos, do aumento de casos de racismo e discriminação e tantas outras agruras pelas quais têm sido expostos os seres humanos. A escuridão ou estado de imperfeição ou também inconsciência nada mais é que a falta da luz ou do conhecimento.  Esta nova luz, representada pela nova primavera, cujos raios lançam pouco a pouco iluminação sobre os afazeres humanos, é o que nos permite ver – numa escala e clareza nunca antes visto - a cruel realidade que nos rodeia, ao tempo em que a emergência de uma aspiração por novos padrões de justiça e equidade ganham força a cada dia.
Um mundo está mesmo morrendo e outro está nascendo!

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

DIALOGANDO COM A FÉ BAHÁ'Í


ENTREVISTA: dialogando com a Fé Bahá’í 
publicado em:  http://www.conic.org.br/cms/noticias/112-entrevista-dialogando-com-a-fe-bahai
Dom, 14 de Outubro de 2012 11:42
O CONIC está fazendo uma série de entrevistas com autoridades religiosas e pessoas engajadas no mundo ecumênico/religioso. Os temas abordados nessas entrevistas versarão sobre pluralismo religioso, a importância do diálogo, interação entre as religiões e assuntos afins.
 
O objetivo da série é ouvir o que essas pessoas têm a dizer e, assim, fomentar o debate. Nossa quarta entrevistada é com o representante da Comunidade Bahá’í do Brasil, Iradj Roberto Eghrari. Confira:
 
1) Em contramão com o que vemos ocorrer em muitas partes do mundo, o Brasil ainda é um país em que diversas correntes religiosas convivem harmonicamente. Como avalia isso?
 
É uma harmonia relativa, pois abrange apenas certos grupos de religiões. Onde está o convívio harmônico entre as religiões de matriz africana e cristãs evangélicas? Como acreditar que existe um convívio harmônico se já é possível verificar uma discriminação contra a população islâmica aqui no país? 
 
Da mesma forma que existe o mito da democracia racial, também existe esse mito de que há um convívio harmônico entre as religiões. Há até determinados embates por busca de poder hegemônico entre algumas religiões. Um exemplo nítido é a questão de ensino religioso em escolas e outros espaços para debate do conhecimento e espiritualidade em que algumas religiões buscam uma hegemonia confessional.
 
A pergunta estimula a reflexão de como alcançar a harmonia religiosa. Um desafio ainda a ser alcançado.
 
2) Na sua opinião, qual a importância do diálogo entre as religiões?
 
O diálogo entre as religiões é fundamental. Os bahá’ís advogam o princípio essencial da unidade do fenômeno religioso. Acreditamos que as religiões nascem de um mesmo Criador, de um mesmo Pai, de um mesmo Deus e que todas têm um fio condutor único, ou seja, não existem religiões no plural - existe uma única religião que é a mensagem que Deus transmite aos seres humanos de tempos em tempos, trazendo guia, orientação e um acolher divino que nos dá sentido a vida.
 
O diálogo inter-religioso estimula os seguidores das religiões a perceber que o Bhagavad Gitá, o Alcorão, os Vedas, a Bíblia, a Torá, o Zend Avesta, Mahabharata, Kitáb-i-Aqdas todos eles são iguais. Não poderia ser diferente se todos provêm do mesmo Criador, de um único Deus. É impossível que sejam contraditórios.
 
O diálogo inter-religioso deve acontecer em dois níveis: pelos representantes das lideranças religiosas (o maior desafio, onde acontecem mais desentendimento) e os seguidores das religiões (que acabam copiando o padrão de comportamento da liderança religiosa). É fundamental promover o diálogo com o intuito de desmitificar a ideia de que as religiões são conflitantes, contraditórias e que há mais de um Deus.
 
3) Em alguns países, os bahá’ís são duramente perseguidos. Na sua análise, levando em consideração fatores como a Primavera Árabe, essa perseguição tende a diminuir ou aumentar nos próximos anos?
 
Por meio de movimentos como da Primavera Árabe, em que a sociedade civil buscou a liberdade de expressão, de crença, de pensamento, de ir e vir, de escolha, de associação, países experimentam novas possibilidades de integração e de convívio entre os diferentes; finalmente nesses países pode-se falar de diferenças, em uma sociedade que busca escutar de todos qual a contribuição que cada um tem a dar pela transformação do mundo.
 
Então de um lado sim, os bahá'ís começam a ter maiores possibilidades. No Egito, depois de praticamente 50 anos de banimento oficial que os bahá'ís sofreram pela lei egípcia, ainda hoje, depois da mudança do regime os bahá'ís continuam banidos, porém, a população pode expressar-se de forma livre e espontânea o seu desejo de conhecer mais sobre os bahá'ís. E os bahá'ís podem dar a sua parcela de contribuição para a construção de uma nova sociedade.
 
O problema está no segundo aspecto que é político, institucional, de governança nesta nova etapa pelos países da Primavera Árabe. Se o governo do Egito, Tunísia, Síria e tantos outros países continuarem com a adoção de padrões antidemocráticos, a população continuará refém de uma espécie de ditadura, na qual existem severas violações de direitos humanos. Se as lideranças dos países não se sensibilizarem em perceberem o diferente e buscarem contribuir no processo de transformação da sociedade, trazendo o direito de ser e existir destas populações, tal primavera logo adentrará no seu velho e conhecido inverno.
 
Para que a governança seja considerada verdadeiramente democrática, é necessário haver um espaço no qual os bahá'ís e outras minorias religiosas possam expressar livremente os ensinamentos de sua religião de acordo com o artigo 18 da Declaração Universal dos Direitos Humanos que preconiza o direito de cada ser humano mudar de religião, professar a sua religião, escolher a sua religião, expressar da forma que melhor lhe convier os seu sentimento religioso.
 
Os bahá'ís não constituem um movimento político ou uma base contestadora da autoridade governamental constituída. Por uma questão de princípio, os bahá'ís não se envolvem em nenhum movimento pela derrubada do regime por mais cruel que ele seja, e um exemplo disto é o que acontece no Irã: apesar da acentuada perseguição, os bahá'ís não buscam a violência, não pegam em armas, não se levantam contra a autoridade do governo, e apenas buscam o diálogo e movimento pacífico, buscam alcançar seus direitos. Mesmo assim não os tem de forma ampla nos países islâmicos do Oriente Médio.
 
4) Um grande canal de TV aberta tem veiculado uma série chamada “Sagrado”, onde líderes de muitas religiões falam sobre sua fé. Iniciativas assim são importantes? Por quê?
 
A iniciativa da Rede Globo é importante e louvável. Assisto a esse programa e o curto, mesmo às 6h da manhã! Acredito que poderia ser um pouco mais longo e aprofundado. A iniciativa traz à luz a possibilidade que nós, enquanto população brasileira, conheçamos outras realidades religiosas como a budista, islâmica; conheçamos a percepção de denominações religiosas que não são a que nós seguimos, como as religiões de matriz africana como o candomblé ou umbanda. Mesmo sendo católico, eu posso escutar um pastor protestante dizer sobre algo determinada questão. Os temas apresentados são atuais, e trazem a ideia de que a religião não pode estar dissociada do nosso cotidiano. No entanto, é uma pena que esta emissora não esteja aberta ao pensamento de que a diversidade deveria estar representada e, que tal representatividade não esteja vinculada a quantidade de adeptos no Brasil ou pelo julgamento do diretor do programa. Um exemplo disto é que, embora o número de budistas seja equiparado ao número de bahá'ís no Brasil, a Rede Globo argumentou que “existem poucos bahá'ís no Brasil”. Fica claro que não se trata da quantidade de seguidores bahá'ís, mas a negação reside no desconhecimento, na discriminação de algo que lhe é diferente e desconhecido.
 
Faço aqui um convite aos dirigentes da área de jornalismo da Rede Globo para que deixem de lado essa falsa premissa de que números é que importam e vejam na verdade a contribuição que cada religião pode trazer. No momento em que o programa Sagrado ganhar uma representação de grupos religiosos mais diversos, a visão da sociedade será ampliada.
 
5) Um mundo de paz, onde todos respeitam a opção religiosa do outro, é possível?
 
Não só é possível, como é realizável e inevitável. O mundo alcançará a paz através de horrores inimagináveis –  e infelizmente a religião pode estar no cerne desse caos – ou chegará a paz por meio de um movimento de vontade consultiva, a vontade de dialogar oriunda do desejo de todos os povos e raças da terra. Então, é possível sim o entendimento das religiões, é necessário esse diálogo harmônico e essa é uma responsabilidade das lideranças religiosas.
 
Grandes desafios da humanidade hoje, ainda que não estejam superados, são capazes de sinalizar a possibilidade de uma solução. Nenhuma mente socialmente responsável hoje é capaz de dizer que racismo é algo que tenha sustentação teórica ou prática, e todos condenam o racismo. Há cem anos atrás a maioria da população mundial ainda considerava os negros inferiores aos brancos. Há 50 anos atrás, o racismo ainda tinha força nos Estados Unidos, onde a segregação racial era um fato. Nota-se que o mundo evoluiu nas organizações de direitos humanos, movimentos pelos direitos civis e das próprias Nações Unidas que impulsionaram o debate através do estabelecimento de uma série de tratados internacionais que favoreceram o estabelecimento de um pensamento novo, diferenciado, audacioso em prol da eliminação do racismo.
 
Hoje, da mesma forma ninguém é capaz de justificar qualquer discriminação contra a mulher, assim como a manutenção dos extremos de riqueza e pobreza, níveis degradantes de educação e uma série de outras violações a dignidade humana. Porém, o mundo sustenta a contenda religiosa, e não é papel das Nações Unidas e nem dos Estados resolverem o problema: a contenda religiosa só é resolvida através dos próprios líderes religiosos. É possível chegar a um acordo, deixando de lado as diferenças e focando os pontos em comum, que são muitos! 
 
Se quisermos um mundo pacífico, cabe a nós, população mundial exigirmos das lideranças religiosas que mantenham um diálogo no qual essas divergências sejam absolutamente superadas e se possa construir um mundo pacífico.

domingo, 30 de setembro de 2012

BUSCANDO A EXCELÊNCIA - Lya Luft

Transcrevo abaixo excelente texto da escritora Lya Luft, para reflexão.

"Quando falo em excelência, não me refiro a ser o melhor de todos, ideia que me parece arrogante e tola. Nada pior do que um arrogante bobo, o tipo que chega a uma reunião, seja festa, seja trabalho, e já começa achando todos os demais idiotas. Nada mais patético do que aquele que se pensa ou se deseja sempre o primeirão da classe, da turma, do trabalho, do bairro, do mundo, quem sabe? Talento e discrição fazem uma combinação ótima.

Então, excelência para mim significa tentar ser bom no que se faz, e no que se é. Um ser humano decente, solidário, afetuoso, respeitoso, digno, esperançoso sem ser tolo, idealista sem ser alienado, produtivo sem ser viciado em trabalho. E, no trabalho, dar o melhor de si sem sacrificar a vida, a família, a alegria, de que andamos tão carentes, embora os trios elétricos desfilem e as baladas varem a madrugada.

Estamos carentes de excelência. A mediocridade reina, assustadora, implacável e persistente. Autoridades, altos cargos, líderes, em boa parte desinformados, desinteressados, incultos, lamentáveis. Alunos que saem do ensino médio semianalfabetos e assim entram nas universidades, que aos poucos — refiro-me às públicas — vão se tornando reduto de pobreza intelectual. As infelizes cotas, contra as quais tenho escrito e às quais me oponho desde sempre, servem magnificamente para alcançarmos este objetivo: a mediocrizaçâo também do ensino superior. Alunos que não conseguem raciocinar porque não lhes foi ensinado, numa educação de brincadeirinha. E, porque não sabem ler nem escrever direito e com naturalidade, não conseguem expor em letra ou fala seu pensamento truncado e pobre. Professores que, mal pagos, mal estimulados, são mal preparados, desanimados e exaustos ou desinteressados. Atenção: há para tudo isso grandes e animadoras exceções, mas são exceções, tanto escolas quanto alunos e mestres. O quadro geral é entristecedor.

E as cotas roubam a dignidade daqueles que deveriam ter acesso ao ensino superior por mérito, porque o governo lhes tivesse dado uma ótima escola pública e bolsas excelentes: não porque, sendo incapazes e despreparados, precisassem desse empurrão. Meu conceito serve para cotas raciais também: não é pela raça ou cor, sobretudo autodeclarada, que um jovem deve conseguir diploma superior, mas por seu esforço e capacidade, porque teve ótimos 1º e 2° graus em escola pública e ou bolsas que o ampararam. Além do mais, as bolsas por raça ou cor são altamente discriminatórias: ou teriam de ser dadas a filhos de imigrantes japoneses, alemães, italianos, que todos sofreram grandemente chegando aqui, e muitos continuam precisando de esforços inauditos para mandar um filho à universidade.

Em suma, parece que trabalhamos para facilitar as coisas aos jovens, em lugar de educá-los com e para o trabalho, zelo, esforço, busca de mérito, uso de sua própria capacidade e talento, já entre as crianças. O ensino nas últimas décadas aprimorou-se em fazer os pequenos aprender brincando. Isso pode ser bom para os bem pequenos, mas já na escola elementar, em seus primeiros anos, é bom alertar, com afeto e alegria, para o fato de que a vida não é só brincadeira, que lazer e divertimento são necessários até à saúde, mas que escola é também preparação para uma vida profissional futura, na qual haverá disciplina e limites — que aliás deveriam existir em casa, ainda que amorosos.

Muitos dirão que não estou sendo simpática. Não escrevo para ser agradável, mas para partilhar com meus leitores preocupações sobre este país com suas maravilhas e suas mazelas, num momento fundamental em que, em meio a greves, justas ou desatinadas, projetos grandiosos e seguidamente vãos — do improviso e da incompetência ou ingenuidade, ou desinformação —, se delineia com grande inteligência e precisão a possibilidade de serem punidos aqueles que não apenas prejudicaram monetariamente o país, mas corroeram sua moral, e a dignidade de milhões de brasileiros. Está sendo um momento de excelência que nos devolve ânimo e esperança."

Publicado na Revista Veja
24/09/2012

quinta-feira, 19 de julho de 2012

GARANHUNS VIVE SEUS MELHORES DIAS


Como são maravilhosos os dias do Festival de Inverno de Garanhuns!

Neste período é possível ter a certeza do grande potencial desta cidade.  Ao mesmo tempo se percebe que sozinhos não somos nada, que é necessário trabalhar em equipe com estrutura e principalmente planejamento.

Escolhi Garanhuns para ser a minha terra e tenho orgulho de assistir aos que vêm de fora admirados com a grandiosidade do Festival e com as belezas desta cidade.

Haverá um dia em que viveremos sempre como nos do Festival: com fartura de possibilidades de trabalho, lazer e cultura.

O que nos resta? Trabalhar para que isso se concretize rapidamente e estar preparados para a chegada desse tempo. Afinal o "nós" é feito de "eus"!

terça-feira, 12 de junho de 2012

COMUNIDADE BAHÁ'Í TRAZ TEMAS DA RIO+20 PARA A AGENDA COMUNITÁRIA

Conferência internacional abordará erradicação da pobreza como ferramenta para o desenvolvimento sustentável

Às vésperas da Rio+20, uma reunião realizada na última terça feira (5) num apartamento na Asa Sul, em Brasília (DF), abordou os desafios encontrados pela sociedade para eliminar os extremos de pobreza e riqueza. A partir desta semana, o tema será tratado também por centenas de chefes de estado e representantes de alto escalão a partir desta semana no Rio Centro.

Há mais de 20 anos, Guitty Milani promove reuniões desta natureza em sua residência. Para ela, esta é uma maneira de contribuir para o aprofundamento acerca de temas relevantes no contexto atual no âmbito das comunidades locais, de acordo com os princípios da Fé Bahá'í. “Assim como eu, inúmeros bahá'ís por todo o Brasil e pelo mundo abrem suas casas para esse tipo de atividade1”, diz ela.

O assunto foi selecionado como contribuição ao Dia de Ação Global pela sustentabilidade, promovido mundialmente por organizações da sociedade civil, que coincidiu com o Dia Mundial do Meio Ambiente. “É muito interessante reunir na minha sala de estar pessoas de origens diversas para tratar de um tema que os governos e a sociedade estão discutindo em reuniões de alto nível”, avalia Guitty, que todas as terças-feiras reúne convidados para eventos como este.

Durante a palestra inicial, Iradj Roberto Eghrari, membro da comunidade bahá'í do Guará, contextualizou a importância do estabelecimento de três pilares na base da sociedade: direitos humanos, justiça e unidade. “Para que os direitos humanos possam ser estabelecidos é preciso haver justiça na Terra”, afirmou Iradj. “A unidade da humanidade é o único princípio capaz de trazer desenvolvimento para todo o mundo”, disse ele.

Para Iradj, o panorama da situação atual do mundo indica uma crise sistêmica. “Os problemas internacionais até hoje são definidos com base em uma visão materialistas”, avalia ele. “Mas a humanidade agora está atingindo a maturidade e já é capaz de reconhecer a existência de um único povo, uma única família humana. Se acreditamos que a justiça deve ser o princípio governante da organização social, então precisamos repensar os paradigmas vigentes no mundo”, disse ele.

Iradj ressaltou ainda o fato de a imensa maioria da população reconhecer a dimensão espiritual da natureza humana. “Por que, então, as políticas de desenvolvimento não focam essa dimensão, em vez de serem dedicadas a questões meramente materiais? É preciso uma mudança radical de paradigma”, afirmou.

Para o aposentado Hoeck Miranda, um dos participantes da reunião, a maior contribuição que os bahá'ís podem oferecer à questão do desenvolvimento sustentável é trazer a questão espiritual para os debates em todos os níveis. “Além disso”, disse ele, “a humanidade precisa reconhecer a importância da consulta como instrumento para se atingir a unidade. É preciso realmente haver uma mudança de atitude. Precisamos abandonar o cenário competitivo para seguir o caminho da cooperação”, afirma Hoeck.

Para saber mais sobre as atividades promovidas pelos bahá'ís em sua cidade, acesse www.bahai.org.br ou escreva para info@bahai.org.br.

1 As reuniões de amigos promovidas pelos bahá'ís ocorrem geralmente em residências particulares e são abertas à participação de todos os interessados. É comum que uma pessoa seja convidada a fazer uma breve palestra inicial sobre o tema selecionado, que então é seguida de comentários por parte de todos os presentes. O objetivo é estreitar os laços entre a comunidade local e favorecer a participação na discussão de temas relevantes para a sociedade.  

EM GARANHUNS-PE -contatos com Virginia Spinassé - e-mail: bahai.garanhuns@hotmail.com

Postado por Assessoria de Comunicação - Comunidade Bahá'í do Brasil às 2:07 PM terça-feira, 12 de junho de 2012 http://sasg.bahai.org.br/2012/06/comunidade-bahai-traz-temas-da-rio20.html

segunda-feira, 2 de abril de 2012

PROGRAMAÇÃO RELIGIOSA DE RÁDIOS E TV'S PÚBLICAS NO BRASIL

Conselho Curador da EBC ouve sociedade civil sobre programação religiosa
14/03/2012 - 19h59

Carolina Pimentel
Repórter da Agência Brasil

Brasília – O Conselho Curador da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) promoveu no dia 14 de março, em sua sede, audiência pública sobre a transmissão de programas religiosos na rede de televisão e rádio da empresa. Representantes de diferentes credos se manifestaram sobre o assunto.

Na avaliação do pastor da Associação Evangélica de Comunicação Reencontro, Flávio Lima, a EBC deve abrir espaço em sua programação para as mais diversas religiões. “O Conselho Curador deve reunir a opinião pública, e o processo deve se desenvolver dentro de um caráter de ajuda à população brasileira, e não de divisão ou de preferências, ou de tomada de espaços por outras religiões. É isso que precisamos discutir. A TV é pública, é do povo”, disse Lima.

O padre Dionel Amaral, da Arquidiocese do Rio de Janeiro, também defendeu a permanência dos programas religiosos na grade da empresa. “Não é proselitismo, é cumprimento de uma missão que é levar a palavra de Deus aqueles que acreditam em Deus.”

Já para Pai Alexandre de Oxalá – Baba Alaiye, da Rede Afrobrasileira Sociocultural, a programação da EBC não deve servir para divulgar um ou outro credo, mas para esclarecer os brasileiros sobre as diversas religiões existentes no país. “Tem que ser um espaço de esclarecimento, não pode ser de pregação, de proselitismo, tem que ser um espaço em que todas as religiões sejam contempladas e possamos mostrar ao povo quão bela é a cultura do nosso país”, disse.

Para Daniel Sotto Maior, representante da Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos, a empresa não deve veicular programas de cunho religioso, devido ao fato de o Brasil ser um Estado laico (oficialmente neutro em relação a religiões). “Com que direito o Estado pode passar a mensagem de que o cidadão tem que ser religioso? Vamos promover todos os tipos de religião, mas não vamos falar nada do ateísmo. Imagina se fosse um Estado que promovesse o ateísmo. São dois casos igualmente discriminatórios. Aplaudo a inciativa de abrir a grade para mais pontos de vista, mas não me parece viável, respeitando a laicidade do Estado, que isso aconteça”, ressaltou Daniel.

A integrante do Comitê de Diversidade Religiosa da Secretaria de Direitos Humanos, Daniella Hiche, sugeriu que a classificação de programação religiosa seja substituída pela de diversidade religiosa. Daniella propôs também a criação de uma comissão, composta por sociólogos e representantes religiosos, para auxiliar a EBC nesse tema. “O comitê considera de suma importância a laicidade do Estado e o caráter público da EBC. O Estado laico deve se ocupar de garantir a diversidade religiosa”, afirmou.

Todos os participantes elogiaram a iniciativa do Conselho Curador de convocar a audiência pública para discutir o tema. “Contemplar a diversidade religiosa em uma mídia pública é um presente que a EBC pode dar a este país”, afirmou Flávia Pinto, representante da umbanda.

A presidenta do Conselho Curador, Ana Fleck, agradeceu as contribuições e a “tolerância e maturidade” de todos os que participaram da reunião.

As opiniões colhidas na audiência vão servir para municiar o grupo consultivo que deve apresentar, dentro de 120 dias, uma proposta ao Conselho Curador sobre religião na grade de programas da EBC. O grupo é formado por conselheiros, representantes da direção da empresa e integrantes do Comitê de Diversidade Religiosa da Secretaria de Direitos Humanos.

No ano passado, o Conselho Curador decidiu suspender da grade de da TV Brasil três programas religiosos que ainda estão sendo exibidos: os católicos A Santa Missa e Palavras da Vida, vinculados à Arquidiocese do Rio de Janeiro, e o evangélico Reencontro. A Rádio Nacional de Brasília também transmite a missa da Arquidiocese local. O conselho argumenta que estes programas não refletem a diversidade religiosa do país.

Na época, a Diretoria Executiva da EBC enviou ao conselho proposta alternativa de programação religiosa, sugerindo a abertura de espaços na grade da emissoras da empresa para as religiões mais representativas, com base em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a exemplo do que fazem TVs públicas de outros países.

A Justiça Federal, acatando ação movida pelas organizações religiosas, decidiu manter a programação como está. Ana Fleck informou que a EBC pediu que a Justiça reveja a decisão, até o grupo consultivo apresente relatório sobre a questão

Após a apresentação do trabalho do grupo consultivo, os conselheiros deverão decidir sobre os programas religiosos na programação da EBC.

Edição: Nádia Franco
http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2012-03-14/conselho-curador-da-ebc-ouve-sociedade-civil-sobre-programacao-religiosa

terça-feira, 20 de março de 2012

ANO NOVO EM MARÇO?

Quando o Sol ilumina a terra inteira com a mesma intensidade, diversas tradições comemoram a chegada de um Novo Ano

Naw-Rúz: tradição milenar celebrada mundialmente por milhões de pessoas

O antigo festival persa do Ano Novo sobreviveu à conquista árabe e, muitos séculos depois, continua a ser comemorado por diversas culturas e comunidades religiosas, como o Zoroastrianos, os Sufís e os Bahá’ís. É realizado no primeiro dia do ano solar corresponde ao equinócio de outono no hemisfério sul e de primavera vernal no hemisfério norte.

Abdu’l-Bahá explica, em uma de Suas epístolas, o fenômeno astrológico observado nesse dia: “Neste momento, o sol aparece no meridiano e dia e noite são iguais. Até o dia de hoje, o Pólo Norte estava escuro. Hoje o sol aprece em seu horizonte. Hoje o sol nasce e se põe na linha equatorial e os dois hemisférios são igualmente iluminados.”

“Este dia sagrado, quando o sol ilumina igualmente a terra inteira, se chama o equinócio”, explica 'Abdu'l-Bahá, “e o equinócio é o símbolo do Manifestante de Deus. O Sol da Verdade se levanta no horizonte da Misericórdia Divina e dele emanam seus raios. Este dia é consagrado à comemoração disso... Quando o sol aparece no equinócio, provoca movimento em todas as coisas. O mundo mineral é posto em moção, as plantas começam a brotar, o deserto é transformado em planície, as árvores florescem e todas as coisas viventes respondem, inclusive os corpos dos animais e dos homens.”

“O subir do sol no equinócio é o símbolo da vida... [É] o símbolo dos Divinos Manifestantes de Deus, pois a ascensão do Sol da Verdade no Céu da Bondade Divina estabeleceu o sinal de Vida para o mundo. A realidade humana começa a viver, nossos pensamentos são transformados e nossa inteligência é despertada. O Sol da Verdade dá Vida Eterna, assim como o sol físico é a causa da vida terrestre”, declara Ele.

Renovação espiritual

O ano de 2012 na Era Cristã corresponde ao 169º ano na Era Bahá'í. O calendário instituído pelo Báb, Profeta Precursor da Fé Bahá'í, é composto por 19 meses, cada um com 19 dias. Os meses recebem nomes correspondentes a um atributo de Deus, assim como ocorre com cada um de seus dezenove dias. O primeiro dia e o primeiro mês são denominados Esplendor (Bahá, em árabe), e assim, o primeiro dia do ano é chamado o dia de Esplendor no mês de Esplendor. O Báb o chamou de Dia de Deus, e associou-o "Àquele que Deus tornará Manifesto", uma figura messiânica em Seus escritos. Os dezoito dias subsequentes do primeiro mês foram associados às dezoito Letras da Vida, os apóstolos do Báb, prevendo uma celebração que duraria dezenove dias.

Os bahá'ís acreditam que Bahá'u'lláh é o Messias prometido pelo Báb. Ele reafirmou o calendário e instituiu o Naw-Rúz como dia sagrado. De acordo com Seus ensinamentos, O Naw-Rúz ocorre no dia seguinte ao término do jejum bahá'í, e está associado ao Máximo Nome de Deus. É um festival para aqueles que observaram o jejum.

A noção simbólica da renovação do tempo em cada dispensação religiosa foi feita explícita pelos escritos do Báb e de Bahá'u'lláh, e o calendário e ano novo tornaram essa metáfora espiritual mais concreta. `Abdu'l-Bahá explicou o significado do Naw-Rúz em termos da primavera e da nova vida que ele traz. Ele explicou que o equinócio é um símbolo dos Manifestantes de Deus, que inclui Jesus, Muhammad, o Báb e Bahá'u'lláh, entre Outros mais antigos e Os que virão futuramente. A mensagem proclamada por esses Mensageiros é como uma primavera espiritual, celebrada durante o Naw-Rúz.

Um pouco de tradição

Até hoje, várias famílias no Irã costumam seguir a tradição de se levantar cedo de manhã no dia 20 de março para buscar água em poços e córregos. Trazida em jarros, a água é então derramada sobre as pessoas, que se vestem com roupas novas e servem comidas especiais para celebrar a chegada do Naw-Ruz.

Um mês antes ocorre a “Khouneh Tekouni” (que, literalmente, significa “sacudir a casa”), quando as casas recebem uma limpeza completa na qual móveis antigos são substituídos por uma nova decoração. A mesa decorativa é posta com uma semana de antecedência, sendo enfeitada com uma cópia do Livro Sagrado, um espelho, velas, vasos com brotos verdes, flores, frutos, moedas, pão, ovos cozidos coloridos pintados no estilo oriental e mais sete artigos cujos nomes em persa comecem com a letra "s". Todos estes são alimentos ou símbolos de riqueza, crescimento e fertilidade.

Na noite anterior ao Naw-Rúz, as famílias se reúnem em torno de fogueiras ao ar livre, todos vestidos com o seu melhor traje. Sentados à mesa, esperam ansiosamente o anúncio – no rádio ou na televisão – do momento exato do equinócio vernal. Após recitar as orações reveladas para este dia sagrado, os familiares se saúdam com um beijo e o desejo de um Feliz Ano Novo.

No mundo ocidental, a celebração assume características das culturas em que está inserida – e as comunidades bahá'ís brasileiras não ficam de fora dessa tradição. É comum a realização de eventos comunitários para os quais são convidados familiares e amigos. A programação é geralmente composta por um momento de orações seguido de apresentações artísticas e comidas diversas. Palestras, dança e fogos de artifício (comuns no Réveillon) também podem fazer parte desta comemoração.

Para saber mais sobre a Fé Bahá'í acesse: www.bahai.org.br

sábado, 10 de março de 2012

UMA SEPARAÇÃO

Leiam abaixo a sinopse do filme iraniano "Uma Separação", escrito por Sam Cyrous - graduado e mestre em Psicologia, membro do movimento TEDx em Goiânia, e integrante do GT da Paz da Prefeitura Municipal de Goiânia

Uma separação


O filme A Separação (Farhadi, 2011), que ganhou há uns dias o Oscar de melhor filme em língua estrangeira, aborda a questão de um casal cuja esposa (Simin) deseja emigrar para dar melhores condições à filha e cujo marido (Nader) não quer abandonar o país por causa do pai que sofre da degenerativa doença de Alzheimer. Até aí um filme normal, não fossem os excelentes atores e equipe do país da Revolução Islâmica, quebrando mitos sobre o Irã.

O filme retrata uma típica mulher iraniana moderna, maquiada, de cabelo pintado, dona do seu nariz (Simin) que age conforme a sua consciência pelo bem daqueles que mais ama, ao mesmo tempo que nos traz um homem que não é só a barba e a raiva que os jornais traspassam, mas um homem (Nader) que ri e brinca, que respeita às mulheres, que se preocupa, que não sabe o que fazer, que se frustra, que chora. Ele nos traz também personagens comuns que não conseguimos nem amar nem odiar, porque são pessoas como nós, tentando viver apesar das dificuldades, do desemprego, da crise econômica, da saúde. Pessoas como Razieh que tomam decisões certas e erradas ao mesmo tempo. Este é um dos encantos do filme: ele toca em nós e faz-nos pensar nas nossas decisões, mas ele vem de outra cultura, de um outro mundo que desconhecemos.

A Separação de Nader de Simin (título original persa) mostra o lado bom da milenar arte persa do tárof, no qual todo persa é educado para ser extremamente cortês em todas as circunstâncias. Isso se vê quando o Nader expulsa de sua casa pela primeira vez a empregada contratada para tomar conta do seu pai: ele diz palavras como “por favor” ou até pede desculpas por lhe tocar… Isso se vê até nas ofensas mútuas, quando se atinge ao grau máximo de chamarem um ao outro de “deshonrado” e “mal-educado” ou, pior ainda, “mentiroso” quando a pessoa jura pela alma do Imám Oculto, o Prometido esperado pelos xiitas.

O filme nos traz também outra separação: aquela dos persa com os árabes, quando por exemplo Nader estudando com a filha diz que determinada palavra é árabe e não importa quem tenha dito que ela pode ser utilizada naquele contexto, pois “errado é errado, não importa quem o diz”. E se temos uma separação há uniões: o próprio Nader usa no início do filme um pouco de inglês no meio do seu persa, e Simin quer sair para outro país que acabou de lhes conceder um visto. A união ao ocidente é algo que deve ter encantado também à Academia de Hollywood, dando um Oscar que também tem muito de político, às vésperas de outro momento eleitoral que ainda pode ter muito de conturbado, não fosse o fantasma do Regime um dos personagens mais presentes no filme.

Talvez a Academia devesse ter indicado o fantasma do Regime Islâmico do Irã, para o Oscar de melhor Ator Coadjuvante. Lá estava ele no tribunal que diz que os temas da esposa “são pequenos”, lá estava ele no medo das mulheres em andar de cabelo destapado, lá estava ele em colocar em causa o que uma mulher dizia — ao dar a voz a alguém dizendo “porquê sair?” do Irã —, lá estava ele no desemprego, no caos da cidade, no hospital e no tribunal, lá estava ele no medo de uma “enfermeira” que não sabia se poderia trocar as calças de um paciente homem com alzheimer que perdera o controle e se sujara (e que teve que telefonar a alguém para saber se seria errado ou não trocar as calças).

Mas Farhadi, o diretor, conseguiu também uma outra separação. Simin, que será talvez descendente simbólico de heroínas que há dois séculos tiraram o véu opressor do estado, assume-se como a verdadeira heroína desta história: importa-se com a verdade e a honra, ao mesmo tempo que se importa com o bem-estar de amigos e supostos inimigos.

Uma Separação (como foi traduzido no inglês) mostra que qualquer iraniano é capaz de, apesar de viver no Irã, ser digno dos mais nobres atos. A separação separa, na verdade, a opressão estatal da liberdade das pessoas. Mesmo no Irã que analistas internacionais tentam entender, existem pessoas justas, e de boa índole, que nada têm a ver com o seu governo. A separação mostra isso, sem mostrá-lo!

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

"O QUE É BOM MESMO É A VIDA."

Hoje, 1º de fevereiro, é o dia do meu aniversário. Para comemorar, quero deixar registrado um texto escrito por Rachel de Queiroz (1910-2003) e publicado no jornal O Estado de São Paulo em 27 de julho de 2002.

“NÃO UMA PROMESSA, MAS UM VÁCUO

Ah, meus tempos, meus bons tempos!, suspiram os velhos. E minha sobrinha duvida: será mesmo que nos tempos de dantes era melhor?

Não, não era melhor. Pelo menos no meu tempo não era. E não creio que tempo nenhum tenha sido melhor.

Gente mais velha tem memória fraca, ou pelo menos memória seletiva.
Recorda apenas o agradável e trata de esquecer o ruim.

Ser moço é uma carga muito dura que só se agüenta porque moço tem força e resistência. Só os velhotes frívolos ou desmemoriados falam sinceramente em saudade dos tempos de juventude.

Meninice, adolescência, mocidade são quadras amargas que a gente atravessa porque não tem outro jeito. E, quando se olha para trás, com o recuo que nos dá a idade, nem se compreende como se teve capacidade para viver aquilo tudo e sair incólume - sair-se pelo menos vivo!

Aquela inquietação, aquela angústia de fazer as coisas. Um exaltado sentimento de responsabilidade pessoal, simultaneamente com a aflitiva consciência de que todos os comandos do mundo estão em outras mãos - mãos que nos parecem incapazes, caducas, inatuais, ineptas. Ah, como é dramática na mocidade essa carga de responsabilidade pelo mundo. Me lembro quando eu andava entre os 18 e os 20, as culpas que carregava nos ombros, tudo que andava certo ou errado, a bem dizer era meu. As crianças famintas na China, os sem-trabalho ingleses, os oprimidos negros americanos, os nossos moços revolucionários que morriam de febre na Clevelândia, a desigualdade das leis, o casamento indissolúvel, o divórcio, as mães solteiras, a mais-valia, o dia de trabalho de oito horas, o slogan por trabalho igual salário igual, a guerra imperialista, o Tratado de Versailles, Sandino, o Kuomintang, as nacionalizações do México, Saco e Vanzetti - tudo isso me pesava às costas. Quando Hitler tomou o poder, em 1932, passei a noite chorando.Começava o stalinismo a sua obra de decomposição da revolução russa, e já arrebitávamos a orelha às denúncias de Trotski, temendo-se pelos atentados à herança de Lenin.

Isso no terreno sociopolítico-universal. E no terreno íntimo e pessoal?

Não se dá apreço, sendo moço, aos valores reais da mocidade - a pele fresca, a inteligência intocada, o coração generoso. O que se sente é a peia da inexperiência, é a conspiração dos mais velhos. Aquela vontade de gritar, de furar muralhas e tratar os outros de igual para igual. De parecer sofisticado, seguro de si irônico e superior!

E ainda não aludi ao coração. Os dramas de coração. O amor o grande tormento dos moços, que começa na adolescência e se prolonga até à pacificação da meia-idade.

Tente lembrar-se, cavalheiro, do seu primeiro namoro - os temores que padeceu, os ódios, os ciúmes, o diabólico sentimento de inferioridade. O terrível desespero nos rompimentos, os desejos de suicídio, a impressão de que o mundo acabou.

Mas de tudo, tudo, o que eu lembro pior na mocidade é o vazio do futuro à frente. Não uma promessa, mas um vácuo. Não caminho florido, mas um túnel de conteúdo ignorado.

A coisa de que a mocidade tem mais medo é do fracasso e da mediocridade.

Despreza e lamenta a gente velha que se acomoda com os seus pequenos êxitos de segundo plano. Meu Deus, que conforto a idade madura e a velhice, quando a gente descobre a doçura de ser pouca coisa. Livre do áspero estímulo da ambição, da falta de fôlego da disputa. Descobrir, com surpresa e alegria que não era imperativo categórico a gente ser um sublime romancista, um insuperável artista trágico, um herói popular, um sábio, um santo - UM GRANDE. Que não envergonha ser um romancista menor, um cidadão menor, uma pessoa do comum...

Então a gente se contenta com nem ter muito dinheiro, nem muita fama, nem mesmo, sim - nem mesmo muita felicidade. Aprende a aceitar confortavelmente a meia ração e ainda agradecer por ela. A ceder os primeiros lugares para os mais dotados e os mais sôfregos, sem as fúrias e a pressão que acicatam os favoritos. Descobrir que o bom é bater palmas e não disputar os aplausos.

E ir perdendo, pouco a pouco, a aflição pela sorte do mundo como o português da anedota, constatar, com um suspiro de alívio, que afinal de contas o navio não é nosso. Que, em suma, fizesse a gente o que fizesse, não alterava nada.

Agora a menina vai dizer que, em resumo, a mocidade é generosa e a velhice é egoísta. Claro. Em compensação, a mocidade é ambiciosa e agressiva e a velhice é pacífica, respeitadora do lugar de cada um.Lembre-se também de que a mocidade é a quadra em que se chora. Velho não chora, ou chora pouco. Lágrimas de moço queimam os olhos e maltratam o rosto, enquanto as lágrimas de velho apenas lavam e refrescam.

Pensando bem, pensando bem, o que é bom mesmo é a vida. Porque, afinal, todas essas coisas que se louvam no envelhecer não significam mais que as prestações pagas, as dívidas arquivadas, as esperanças e os ardores peremptos. A promessa do fim.”

sábado, 21 de janeiro de 2012

21 DE JANEIRO - DIA MUNDIAL DA RELIGIÃO

No dia 21 de janeiro é comemorado o dia mundial da religião. A criação da data foi com o objetivo de promover a união de todas as religiões existentes no mundo, levando mais fé e esperança ao povo.

No Irã, os bahá’ís - a maior das minorias religiosas daquele país - sofrem com a intolerância religiosa:

Jornal Metro de São Paulo: “A longa caminhada dos bahá'ís pela liberdade no Irã”
Situação é ilustrada com depoimentos de um refugiado bahá'í e entrevista com a coordenadora de política externa da ONG Conectas


Ontem, dia 20 de janeiro, o Jornal Metro de São Paulo e sua sucursal de Porto Alegre, publicou na editoria metromundo a matéria “A longa caminhada dos bahá'ís pela liberdade no Irã”, de autoria do jornalista Henrique Ribeiro. É provável que o artigo seja divulgado também nas sucursais do Rio de Janeiro, Campinas, Curitiba, Belo Horizonte, ABC Paulista (Santo André, São Bernardo do Campo, São Caetano do Sul e Diadema) e, inclusive, na Metro Internacional.

A reportagem aborda a campanha difamatória pelo próprio governo aos bahá'ís no Irã, em contraste com as atividades de serviço à humanidade, que a Comunidade Bahá'í promove, tanto no Brasil como em todo o mundo, trazendo relatos de um refugiado iraniano bahá'í na Turquia, Lucas (nome fictício).

“Os próprios professores insultam a Fé Bahá'í e ensinam aos alunos, que a nossa religião é um perigo à nação. O resultado é que os alunos que têm essa fé são humilhados e ridicularizados tanto dentro da sala de aula e até no pátio, pelos próprios colegas”, relata Lucas, que foi expulso três vezes na época em que cursava o equivalente ao Ensino Médio. Atualmente, embora com mestrado no exterior e domine quatro idiomas, o refugiado bahá'í não consegue trabalho em Teerã, pois ele é mais uma das inúmeras vítimas de intolerância religiosa no Irã.

A coordenadora de política externa da ONG Conectas e professora de Relações Internacionais na Faap, Camila Asano, também foi entrevistada pelo jornal e comprova que há discriminação aos bahá'ís: “o Irã é uma República Islâmica que sufoca outras religiões, mas com foco principal na Fé Bahá'í”.

Veja o artigo completo na página 12. http://publimetro.band.com.br/pdf/20120120_MetroSaoPaulo.pdf

Publicado em: http://secext-arquivos.blogspot.com/2012/01/jornal-metro-de-sao-paulo-longa.html

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