GENTE EM AÇÃO CONSTRUINDO RESULTADOS
Virginia Spinassé (*)
O 37º CONARH – Congresso Nacional sobre Gestão de Pessoas, aconteceu no período de 15 a 17 de agosto de 2011 no Transamérica Expo Center em São Paulo. Consolidado como o maior e mais importante evento de Gestão de Pessoas da América Latina, o CONARH teve a participação de 3.400 congressistas, 20.000 visitantes e 120 expositores. Todas essas pessoas puderam assistir 9 palestras magnas, 27 palestras simultâneas, 7 fóruns, 2 painéis de pesquisas e 47 palestras gratuitas.
O CONARH é idealizado e construído pela ABRH – Associação Brasileira de Recursos Humanos, uma instituição não-governamental, existente há 45 anos, com 23 seccionais desvinculadas juridicamente e independentes, sem fins lucrativos que tem como missão disseminar conhecimento sobre o mundo do trabalho para desenvolver pessoas e organizações, influenciando na melhoria da condição social, política e econômica do país. Todo o trabalho é feito em forma de voluntariado.
O tema central do CONARH foi dividido em cinco eixos que nortearam os debates: VPS e Diretores de RH; Profissionais de RH em Cargos Intermediários, Jovens Profissionais de RH; Gestores de Pessoas e Profissionais de RH na Gestão Pública.
Alguns temas foram abordados em praticamente todas as palestras. Um deles foi a escassez de profissionais qualificados para ocuparem as vagas de emprego neste momento espetacular pelo qual está passando o Brasil. Apesar de ser uma frase comum, ficou claro que o caminho é a educação. Porém, esse é um caminho em longo prazo. As empresas não podem esperar. Muitas delas estão investindo pesado no desenvolvimento de seus funcionários para, dessa forma, amenizar o tão falado “apagão de talentos”. O mais preocupante nisso tudo é a falta de líderes e a incógnita de como formá-los em tempo recorde. Não estamos conseguindo formar profissionais nem na quantidade e nem na qualidade que precisamos. Afinal, o principal ator da retenção dos talentos nas organizações é o líder.
Através da fala dos muitos Diretores de RH presentes ao Congresso, tivemos uma feliz notícia: os talentos que ainda estão disponíveis no mercado procuram empresas que tenham valores alinhados aos seus. Existe uma busca pela qualidade de vida no trabalho, por empresas socialmente responsáveis, por organizações onde os líderes gostem de gente, onde a comunicação seja transparente.
Através dos debates nas palestras do eixo Profissionais de RH na Gestão Pública foi possível observar que é inegável a natureza política da Administração Pública. Sabemos que o setor privado pode tudo desde que seja legal e o setor publico só pode fazer o que está na lei, sempre seguindo o princípio da isonomia. Apesar de alguns limites inerentes ao setor, uma nova Administração Pública está surgindo, baseada na meritocracia. Foram apresentados casos de sucesso de implantação de Programas de Adequação ao Cargo – após concurso público – e implantação de Programas de Avaliação de Desempenho e Programa de Metas com Remuneração Variável, todos na área pública. Isso nos leva a crer que um novo Servidor Público está surgindo, cada vez mais consciente do seu importante papel junto à sociedade.
O grande astro do congresso, o RH, foi tratado com toda pompa da qual é merecedor. O saldo dos debates sobre a área de Gestão de Pessoas foi extremamente positivo. Em primeiro lugar é importante lembrar que a gestão de pessoas é responsabilidade de qualquer gestor e não apenas de uma determinada área da organização. Os gestores deixaram de ser gerenciadores da produção e da CLT para ser desenvolvedores de talentos. O RH passou do papel de vítima para o de protagonista, parceiro, elemento central de sustentação do negócio.
As pessoas precisam muito menos de orientação técnica e mais de suporte humano: afeto, cuidado. A diferença entre as organizações é feita pelas pessoas. Para que elas estejam felizes é preciso estar engajadas, conectadas emocionalmente com a organização. Quando os funcionários estão satisfeitos os clientes também ficarão satisfeitos. As empresas precisam estar atentas ao clima organizacional, implementando ações que aumentem o sentimento de pertencimento à organização, para que os colaboradores sintam prazer em trabalhar. O processo de comunicação interno é fundamental para o sucesso de ações voltadas para o reconhecimento, educação e desenvolvimento.
Hoje, a palavra da Gestão de Pessoas é ENGAJAMENTO! As empresas estão trabalhando incessantemente para tornar o ambiente organizacional um local onde seja possível trabalhar com felicidade, com brilho no olho. A fórmula é simples: gostar de gente, valorizar o potencial humano, a criatividade, os valores éticos. Liderar pelo exemplo, ser coaching e ter prazer em ver as pessoas evoluindo. Pessoas não são controláveis, são motivadas. E quando estão motivadas estão conectadas emocionalmente: engajadas!
Este é o RH rumo a um novo tempo: Acreditar na capacidade do ser humano de se reinventar a todo momento nesta aldeia global: tão grande na sua diversidade e tão pequena na sua conectividade.
(*) Virginia Spinassé é Especialista em Gestão de Pessoas, Consultora de Empresas, Professora de Cursos de Graduação e Pós-graduação e Membro do Conselho Administrativo da ABRH-AL.
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terça-feira, 23 de agosto de 2011
quarta-feira, 1 de junho de 2011
SER ESPECIAL É SER FELIZ
Contei esta história para algumas pessoas, mas faço questão de deixar registrada neste blog.
Tudo começou quando em 27 de abril de 1984 nasceu nosso primeiro filho – AUGUSTO. Foi a minha primeira experiência com uma criança! Morava numa cidade com poucos recursos e sem familiares por perto.
Entretanto, o instinto materno foi me fazendo perceber que havia alguma coisa diferente com o meu filho. O desenvolvimento era lento: demorou a sentar, a engatinhar, a andar, a falar...
Em uma das visitas ao pediatra, quando Augusto estava com dois anos e eu grávida da minha filha Heloisa, ele me indicou uma fonoaudióloga, por conta da demora da fala. Através dela – Ruth Araújo (a quem agradecerei eternamente), passamos a procurar outros especialistas para examinarem Augusto.
Diagnósticos? Muitos! Ouvi de tudo: de psicose infantil a autismo.
Explicações? Mínimas.
Soluções? Nenhuma.
De acordo com um excelente médico de Garanhuns – o único que há pouco tempo nos deu um diagnóstico coerente - nosso filho tem “retardo mental não identificado e outros transtornos de comportamentos”.
A realidade: um atraso no desenvolvimento da coordenação motora e uma deficiência intelectual que fazem com que Augusto tenha um comportamento diferente dos adultos considerados normais. Preferimos dizer que ele é ESPECIAL.
A história é longa, afinal Augusto tem 27 anos e desde que completou dois anos buscamos tudo que é possível para ele se desenvolva.
A pior parte: os preconceitos! A ignorância do ser humano frente àquilo que ele considera anormal.
A melhor parte: Os anjos que encontramos na nossa caminhada. Essas pessoas maravilhosas que nos apoiaram e apóiam na luta pelo desenvolvimento e pela INCLUSÃO de AUGUSTO na sociedade.
AUGUSTO é um anjo que quebrou as asas lá no céu e caiu, chegando assim em nossas vidas. Ter um anjo particular é privilégio de poucos. Com ele aprendemos a amar incondicionalmente. Aprendemos a ter paciência e compaixão. Aprendemos que o preconceito dói! Aprendemos a respeitar as pessoas apesar das diferenças.
Ter AUGUSTO nos tornou seres humanos melhores e mais felizes. Nossa existência foi transformada!
AUGUSTO nos dá grandes lições de vida. Recentemente ele nos emocionou até as lágrimas e nos fez refletir um pouco mais sobre a vida e o que fazemos com ela.
Vamos ao momento:
Estávamos em uma lanchonete da cidade quando entrou uma pessoa conhecida que também tem um filho nas mesmas condições do nosso. Então se deu a seguinte conversa:
Augusto:"Pai, Mãe! Olha lá: aquele é o filho dela. Ele é especial!"
Pai: "É mesmo?"
Augusto:"É! E eu também sou especial!"
Mãe: "O que é ser especial?"
Augusto:"É ser feliz! Eu sou muito feliz!!!!"
SER ESPECIAL É SER FELIZ! VAMOS TENTAR SER ESPECIAIS TAMBÉM?
É TÃO SIMPLES...
Tudo começou quando em 27 de abril de 1984 nasceu nosso primeiro filho – AUGUSTO. Foi a minha primeira experiência com uma criança! Morava numa cidade com poucos recursos e sem familiares por perto.
Entretanto, o instinto materno foi me fazendo perceber que havia alguma coisa diferente com o meu filho. O desenvolvimento era lento: demorou a sentar, a engatinhar, a andar, a falar...
Em uma das visitas ao pediatra, quando Augusto estava com dois anos e eu grávida da minha filha Heloisa, ele me indicou uma fonoaudióloga, por conta da demora da fala. Através dela – Ruth Araújo (a quem agradecerei eternamente), passamos a procurar outros especialistas para examinarem Augusto.
Diagnósticos? Muitos! Ouvi de tudo: de psicose infantil a autismo.
Explicações? Mínimas.
Soluções? Nenhuma.
De acordo com um excelente médico de Garanhuns – o único que há pouco tempo nos deu um diagnóstico coerente - nosso filho tem “retardo mental não identificado e outros transtornos de comportamentos”.
A realidade: um atraso no desenvolvimento da coordenação motora e uma deficiência intelectual que fazem com que Augusto tenha um comportamento diferente dos adultos considerados normais. Preferimos dizer que ele é ESPECIAL.
A história é longa, afinal Augusto tem 27 anos e desde que completou dois anos buscamos tudo que é possível para ele se desenvolva.
A pior parte: os preconceitos! A ignorância do ser humano frente àquilo que ele considera anormal.
A melhor parte: Os anjos que encontramos na nossa caminhada. Essas pessoas maravilhosas que nos apoiaram e apóiam na luta pelo desenvolvimento e pela INCLUSÃO de AUGUSTO na sociedade.
AUGUSTO é um anjo que quebrou as asas lá no céu e caiu, chegando assim em nossas vidas. Ter um anjo particular é privilégio de poucos. Com ele aprendemos a amar incondicionalmente. Aprendemos a ter paciência e compaixão. Aprendemos que o preconceito dói! Aprendemos a respeitar as pessoas apesar das diferenças.
Ter AUGUSTO nos tornou seres humanos melhores e mais felizes. Nossa existência foi transformada!
AUGUSTO nos dá grandes lições de vida. Recentemente ele nos emocionou até as lágrimas e nos fez refletir um pouco mais sobre a vida e o que fazemos com ela.
Vamos ao momento:
Estávamos em uma lanchonete da cidade quando entrou uma pessoa conhecida que também tem um filho nas mesmas condições do nosso. Então se deu a seguinte conversa:
Augusto:"Pai, Mãe! Olha lá: aquele é o filho dela. Ele é especial!"
Pai: "É mesmo?"
Augusto:"É! E eu também sou especial!"
Mãe: "O que é ser especial?"
Augusto:"É ser feliz! Eu sou muito feliz!!!!"
SER ESPECIAL É SER FELIZ! VAMOS TENTAR SER ESPECIAIS TAMBÉM?
É TÃO SIMPLES...
quinta-feira, 10 de março de 2011
8 DE MARÇO - DIA INTERNACIONAL DAS MULHERES
Por Mary Caetana Aune-Cruz*
Há exatos 100 anos o mundo passou a celebrar, em 8 de março de cada ano, o Dia Internacional das Mulheres. A data fora definida no ano anterior pelos participantes de uma conferência das Nações Unidas como uma maneira de lembrar os países sobre a necessidade de se garantir que os direitos das mulheres fossem tratados com a devida consideração.
Muitos anos antes, em 1848, uma jovem persa de 36 anos atreveu-se a aparecer publicamente despida do véu que cobria seu rosto. Ela o fez por acreditar na Mensagem do Báb Profeta Precursor da Fé Baháí que dizia que mulheres e homens deveriam trabalhar juntos para o progresso da sociedade. Poetisa e teóloga, ela era reconhecida em seu meio pela eloquência com que defendia suas posições, nunca permitindo que as regras e convenções de sua sociedade a impedissem de atingir seu potencial. Esta jovem ficou conhecida como Tahirih, A Pura - a primeira mulher a aceitar a Fé de Baháulláh e a proclamar direitos iguais para mulheres e homens na antiga Pérsia.
Os próprios seguidores do Báb, reunidos em uma conferência na cidade de Badasht, incomodavam-se com a presença dessa bela mulher. Apesar de acreditarem na mensagem trazida pelo Manifestante de Deus, esses homens tinham sentimentos bastante fortes com relação à posição das mulheres na sociedade, e seria preciso tempo para que compreendessem e se acostumassem com a ideia da igualdade. Conta-se que a aparição de Tahirih sem o véu os deixou extremamente perturbados, e que um deles cortou a própria garganta ao vê-la daquela maneira.
Juntamente com outros Bábís, Tahirih sofreu inúmeras perseguições e exílios pelo receio que as autoridades tinham diante da influência dos princípios que defendiam na sociedade. Em 1852, ela foi presa na casa do governador de Teerã, sendo impedida de se comunicar com quem quer que fosse. Três meses depois, uma carta do próprio Rei que já havia expressado admiração por sua beleza e erudição dizia que ela seria libertada e teria o privilégio de ser tomada como sua esposa, desde que, na presença de dois clérigos, renegasse sua fé e se declarasse muçulmana. Sua resposta foi imediata: Podem me matar assim que quiserem, mas não podem impedir a emancipação das mulheres!.
Tahirih foi estrangulada com um lenço que ela própria escolheu e seu corpo foi então jogado em um poço. Passados mais de 160 anos desde que essa luta começou a se popularizar, episódios de violência, discriminação e repressão às mulheres ainda são comuns em todos os países do mundo. No Brasil, a cada cinco segundo uma mulher é vítima de violência. Nos Estados Unidos e na Europa, a coisificação das mulheres ainda reproduz uma ideologia de culto ao corpo em detrimento do potencial humano de contribuição que podem oferecer à sociedade. Em vários países da África, a mutilação genital ainda é tida como uma questão de tradição, ignorando o fato de que o corpo é o templo da alma humana e precisa ser preservado. Na Índia, as taxas de infanticídio contra meninas seguem altas, devido ao fato de as famílias não terem condições de arcar com o dote que corresponde ao casamento de suas numerosas filhas. Na América Latina, o serviço doméstico priva uma quantidade absurda de meninas e jovens de darem seguimento a seus estudos, além de expô-las a uma dura realidade de abusos psicológicos, laborais e sexuais. Infelizmente, esta lista poderia se estender por longas páginas...
Apesar disso, assim como Tahirih, um número crescente de mulheres por todo o mundo seguem contribuindo ombro a ombro com os homens justos para a melhora de suas comunidades, dotadas de muita perseverança e fé na igualdade que buscam conquistar. Cada vez mais, elas têm ocupado funções de destaque na sociedade, seja em termos da liderança familiar e comunitária, no comando de grandes empresas públicas e privadas ou nos governos. Estudos revelam que, uma vez que chegam ao poder, dificilmente perdem sua influência. O exemplo das vidas dessas mulheres demonstra que a resposta adequada à opressão não está em sucumbir em resignação nem em assumir as características do opressor. Transcender a opressão só é possível por meio de uma força interior que protege a alma da amargura e do ódio e que dá sustento à ação consistente, baseada em princípios como a justiça, a unidade e a promoção da paz.
Baháulláh ensina que o equilíbrio entre o masculino e o feminino é a única forma de fazer com que a humanidade possa avançar. Enquanto as energias puramente masculinas dominam as esferas de tomada de decisão, é impossível garantir que o desenvolvimento ocorra de maneira plena. As guerras persistirão, as desigualdades crescerão e o meio ambiente continuará a sofrer, trazendo consequências nefastas para toda a população mundial. Isso não significa que as mulheres seriam mais pacíficas, mais justas ou mais conscientes; antes, quer dizer que ignorar a contribuição potencial feminina que corresponde a mais da metade da população mundial total nos impede, enquanto coletividade, de enxergar a realidade de maneira integral e buscar soluções eficientes para os problemas que afligem a humanidade.
A igualdade já é uma realidade em termos espirituais, visto que a alma não tem sexo. Resta-nos trabalhar para que ela possa se refletir também em nossa realidade material, garantindo a participação das mulheres em todos os campos de atividade humana a fim de estabelecer o clima moral e psicológico necessários para o estabelecimento da paz internacional e do progresso de uma nova civilização mundial.
* Mary Caetana Aune-Cruz é cientista política pela Universidade de Brasília (UnB) e membro da comunidade baháí.
Há exatos 100 anos o mundo passou a celebrar, em 8 de março de cada ano, o Dia Internacional das Mulheres. A data fora definida no ano anterior pelos participantes de uma conferência das Nações Unidas como uma maneira de lembrar os países sobre a necessidade de se garantir que os direitos das mulheres fossem tratados com a devida consideração.
Muitos anos antes, em 1848, uma jovem persa de 36 anos atreveu-se a aparecer publicamente despida do véu que cobria seu rosto. Ela o fez por acreditar na Mensagem do Báb Profeta Precursor da Fé Baháí que dizia que mulheres e homens deveriam trabalhar juntos para o progresso da sociedade. Poetisa e teóloga, ela era reconhecida em seu meio pela eloquência com que defendia suas posições, nunca permitindo que as regras e convenções de sua sociedade a impedissem de atingir seu potencial. Esta jovem ficou conhecida como Tahirih, A Pura - a primeira mulher a aceitar a Fé de Baháulláh e a proclamar direitos iguais para mulheres e homens na antiga Pérsia.
Os próprios seguidores do Báb, reunidos em uma conferência na cidade de Badasht, incomodavam-se com a presença dessa bela mulher. Apesar de acreditarem na mensagem trazida pelo Manifestante de Deus, esses homens tinham sentimentos bastante fortes com relação à posição das mulheres na sociedade, e seria preciso tempo para que compreendessem e se acostumassem com a ideia da igualdade. Conta-se que a aparição de Tahirih sem o véu os deixou extremamente perturbados, e que um deles cortou a própria garganta ao vê-la daquela maneira.
Juntamente com outros Bábís, Tahirih sofreu inúmeras perseguições e exílios pelo receio que as autoridades tinham diante da influência dos princípios que defendiam na sociedade. Em 1852, ela foi presa na casa do governador de Teerã, sendo impedida de se comunicar com quem quer que fosse. Três meses depois, uma carta do próprio Rei que já havia expressado admiração por sua beleza e erudição dizia que ela seria libertada e teria o privilégio de ser tomada como sua esposa, desde que, na presença de dois clérigos, renegasse sua fé e se declarasse muçulmana. Sua resposta foi imediata: Podem me matar assim que quiserem, mas não podem impedir a emancipação das mulheres!.
Tahirih foi estrangulada com um lenço que ela própria escolheu e seu corpo foi então jogado em um poço. Passados mais de 160 anos desde que essa luta começou a se popularizar, episódios de violência, discriminação e repressão às mulheres ainda são comuns em todos os países do mundo. No Brasil, a cada cinco segundo uma mulher é vítima de violência. Nos Estados Unidos e na Europa, a coisificação das mulheres ainda reproduz uma ideologia de culto ao corpo em detrimento do potencial humano de contribuição que podem oferecer à sociedade. Em vários países da África, a mutilação genital ainda é tida como uma questão de tradição, ignorando o fato de que o corpo é o templo da alma humana e precisa ser preservado. Na Índia, as taxas de infanticídio contra meninas seguem altas, devido ao fato de as famílias não terem condições de arcar com o dote que corresponde ao casamento de suas numerosas filhas. Na América Latina, o serviço doméstico priva uma quantidade absurda de meninas e jovens de darem seguimento a seus estudos, além de expô-las a uma dura realidade de abusos psicológicos, laborais e sexuais. Infelizmente, esta lista poderia se estender por longas páginas...
Apesar disso, assim como Tahirih, um número crescente de mulheres por todo o mundo seguem contribuindo ombro a ombro com os homens justos para a melhora de suas comunidades, dotadas de muita perseverança e fé na igualdade que buscam conquistar. Cada vez mais, elas têm ocupado funções de destaque na sociedade, seja em termos da liderança familiar e comunitária, no comando de grandes empresas públicas e privadas ou nos governos. Estudos revelam que, uma vez que chegam ao poder, dificilmente perdem sua influência. O exemplo das vidas dessas mulheres demonstra que a resposta adequada à opressão não está em sucumbir em resignação nem em assumir as características do opressor. Transcender a opressão só é possível por meio de uma força interior que protege a alma da amargura e do ódio e que dá sustento à ação consistente, baseada em princípios como a justiça, a unidade e a promoção da paz.
Baháulláh ensina que o equilíbrio entre o masculino e o feminino é a única forma de fazer com que a humanidade possa avançar. Enquanto as energias puramente masculinas dominam as esferas de tomada de decisão, é impossível garantir que o desenvolvimento ocorra de maneira plena. As guerras persistirão, as desigualdades crescerão e o meio ambiente continuará a sofrer, trazendo consequências nefastas para toda a população mundial. Isso não significa que as mulheres seriam mais pacíficas, mais justas ou mais conscientes; antes, quer dizer que ignorar a contribuição potencial feminina que corresponde a mais da metade da população mundial total nos impede, enquanto coletividade, de enxergar a realidade de maneira integral e buscar soluções eficientes para os problemas que afligem a humanidade.
A igualdade já é uma realidade em termos espirituais, visto que a alma não tem sexo. Resta-nos trabalhar para que ela possa se refletir também em nossa realidade material, garantindo a participação das mulheres em todos os campos de atividade humana a fim de estabelecer o clima moral e psicológico necessários para o estabelecimento da paz internacional e do progresso de uma nova civilização mundial.
* Mary Caetana Aune-Cruz é cientista política pela Universidade de Brasília (UnB) e membro da comunidade baháí.
sexta-feira, 4 de março de 2011
O CARNAVAL DA ALMA
O CARNAVAL DA ALMA
Artur Da Távola
É ter por dentro ecos formidáveis, batucadas existenciais, passistas encantadas realizando a coreografia da saudade.
Ao lado delas, segue um jovem emocionado por viver e saber-se carioca em profundidade, identificado com tudo aquilo.
Aquele jovem saiu no bloco da vida e foi para aonde?
É não se agradar do Carnaval concreto, que tem tudo "demais": preços, "seguranças", angústia, crachás, barraquinhas, nudez grosseira e violência, vale dizer o oposto do espírito da festa..
É agradar-se como desejo de ser leve e solto, vagabundo e belo, e sem tantos deveres ou consciência.
É preferir a alma da festa, ao seu corpo, embora estupefato diante da beleza de pessoas impossíveis.
É a criação de um território próprio onde se é rei pelo cansaço de ser plebeu no território concreto dos homens.
É ainda a ânsia de sair por aí, sem intenções ou objetivos, cansado de conhecer, analisar.
Querendo apenas ser e viver.
Sem cogitar.
É não se aproveitar da fantasia para dizer verdades recalcadas e provocar ofensores.
É sair por aí numa boa e com uma só disposição - a de nada ter a fazer, ninguém a quem convencer ou dar satisfações, a alegria liberta de dispor do próprio tempo e da própria vontade segundo o que vai acontecendo e não segundo os planos tensos e contraídos do "ter que fazer", "dizer", "compreender" ou "realizar".
É ânsia de vôos e alegria.
Necessidade de não cogitar e mergulhar na vida.
Um instante de inconseqüência no meio da trajetória idiotamente lúcida, tão obscura.
É mandar às favas a ânsia de metafísica, mera expressão dos medos que moram na mente, vizinhos dos pensamentos
(não se dão bem, esses vizinhos!).
É acordar tranqüilo e emocionado, certeza de festa.
Só esperança, só juventude.
Do lado de lá, tanto coração!
Do lado de cá, tanta vontade!
Apenas ser vítima da alma diabólica das festas, jamais autor ou relator, organizador ou apreciador.
Vontade de ser passista ou tocador de surdo, de mergulhar no delírio, ser mais um, chutar seriedades e convicções, deveres e testemunhos.
Vontade de tudo que só farei interiormente.
Dá no mesmo...
terça-feira, 9 de novembro de 2010
O VELHO CHICO
Estive em Penedo – Alagoas nos dias 5, 6 e 7 de novembro e pude, mais uma vez, me deslumbrar com a imensidão do Rio São Francisco bem perto de chegar ao mar.
Encontrei uma das mais bonitas e antigas cidades históricas brasileiras que impressiona pelo seu patrimônio cultural.
Tive também a felicidade de apreciar um belíssimo pôr do Sol às margens do Velho Chico, bem próximo do sobrado onde se hospedou o Imperador D. Pedro II em sua visita a Penedo em 1859.
Apesar de ter ido trabalhar, foi também uma viagem cultural!
sexta-feira, 15 de outubro de 2010
DIA DO PROFESSOR
P R O F I S S Ã O D E F É
Esta é a minha singela homenagem aos professores que conquistam o grau de Educadores:
Feizi Milani *
A agricultura é uma profissão de fé. Fé, não no sentido de frequentar igreja, nem de ficar parado, esperando que Deus lhe conceda os seus desejos. Fé em sua acepção mais profunda, de acreditar e fazer a sua parte, mesmo sem a garantia do final desejado, mesmo sem enxergar aquilo que se quer alcançar. Fé como uma mescla de certeza, determinação, esperança e entrega ao processo, independentemente dos resultados.
O segredo do agricultor é a sua fé. Não há qualquer garantia quanto à colheita, mas ele planta mesmo assim. Ano após ano, movido pela fé, ele prepara a terra, seleciona as sementes, espalha-as criteriosamente e passa a cuidar de sua plantação.
Na realidade, durante algum tempo, quem olhar para o terreno, nada verá, exceto o solo revolvido, pequenos montes de terra e uma aparência desértica. O agricultor, entretanto, sabe que aquela cena aparentemente caótica oculta poderosos processos de transformação. Silenciosamente, as sementes começam a interagir com o solo, a água e o calor do Sol. Lentamente, uma nova vida tem início. Tudo isso é invisível para quem mira a terra, mas o agricultor mantém-se inabalável em sua fé. Sem se importar com o que as aparências ou com que pode ser visto na superfície, ele cuida do terreno diariamente, incansavelmente. Esparge água na medida certa. Arranca as ervas daninhas. Afugenta os animais que podem atacar a plantação. Protege-a das intempéries da natureza. Vigia para que pragas não se disseminem. Aduba o solo.
Mesmo sem a garantia da colheita, o agricultor acredita tanto que continua a fazer tudo o que é necessário e tudo o que estiver a seu alcance, para que o máximo de sementes possa brotar, se desenvolver e frutificar. Ele tem consciência de que há fatores críticos que se encontram totalmente fora de seu controle – a seca, a enchente, o vendaval, as pestes e variações bruscas de temperatura... Essa consciência, ao invés de desmotivá-lo, torna-o mais humilde e, ao mesmo tempo, obstinado em fazer a sua parte, no melhor de suas possibilidades.
Desse modo, se as condições climáticas forem favoráveis, ele terá uma superprodução. Se forem razoáveis, ele conseguirá, ao menos, recuperar o seu investimento. Se o clima for desfavorável... bem, o agricultor sabe que essa possibilidade existe e já a sofreu várias vezes, mas ele opta por não incluí-la em suas previsões, pois, se o fizesse, desistiria de seu ofício. E o restante da sociedade passaria fome.
Há vários tipos de agricultor. Dentre eles, um se destaca pela preciosidade das sementes que planta e pelo tempo que elas levam para brotar e frutificar. Essas características do seu cultivo exigem desse tipo de agricultor as mais altas doses de paciência e perseverança. Paciência, muita paciência. Perseverança, muita perseverança. Paciência e perseverança combinadas. Isso sem falar da fé inabalável e da dedicação incansável.
Trata-se do Educador. Seus campos de cultivo são os Corações e as Mentes dos educandos – terrenos férteis, mas cujo preparo e manutenção exigem grande esforço. As sementes que planta são o bom exemplo, a sabedoria e o encorajamento. A água que esparge é a sua palavra, portadora não só de conhecimento, mas também de sentimentos construtivos. O afeto que irradia através de seu olhar, gestos, posturas, do que diz e do que silencia, constitui a luz e o calor que energiza o solo.
Alguns agricultores precisam trabalhar durante semanas, talvez meses, até que chegue o momento da colheita. Já ao Professor, não é dado ver os frutos de seu trabalho. São raras as oportunidades em que ele próprio testemunha o desabrochar dos educandos ou a frutificação de seus ensinamentos, pois as sementes que semeia levam dez, quinze, vinte anos para dar frutos.
Outra característica que distingue o Educador dos demais agricultores: ele planta, mas não lhe cabe colher. Quem colhe é o próprio educando, a sua família e a sociedade como um todo. Por essa razão, o ofício de Educador caracteriza-se pela abnegação. Não qualquer abnegação, mas a legítima, que implica em abnegação de si mesmo, abnegação dos desejos de popularidade e reconhecimento, abnegação dos resultados imediatos de seu trabalho, abnegação da busca por “soluções mágicas”, “atalhos milagrosos” ou “respostas fáceis” aos desafios que enfrenta.
Se o Educador não tivesse tal abnegação, exigiria “garantias prévias” quanto ao resultado de seus esforços, cobraria a possibilidade de participar dos benefícios da colheita. Ninguém pode lhe dar a certeza de que os ensinamentos que semeia encontrarão acolhida entre os educandos, que suas qualidades como educador serão reconhecidas ou valorizadas, que sua dedicação ao ensino será recompensada pelo aprendizado dos estudantes. Este ofício exige, por sua própria natureza, total concentração no processo e sincero desprendimento dos resultados. Em outras palavras, exige entrega.
* Feizi Milani é conferecencista e professor da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB)
feizimilani.blogspot.com
Esta é a minha singela homenagem aos professores que conquistam o grau de Educadores:
Feizi Milani *
A agricultura é uma profissão de fé. Fé, não no sentido de frequentar igreja, nem de ficar parado, esperando que Deus lhe conceda os seus desejos. Fé em sua acepção mais profunda, de acreditar e fazer a sua parte, mesmo sem a garantia do final desejado, mesmo sem enxergar aquilo que se quer alcançar. Fé como uma mescla de certeza, determinação, esperança e entrega ao processo, independentemente dos resultados.
O segredo do agricultor é a sua fé. Não há qualquer garantia quanto à colheita, mas ele planta mesmo assim. Ano após ano, movido pela fé, ele prepara a terra, seleciona as sementes, espalha-as criteriosamente e passa a cuidar de sua plantação.
Na realidade, durante algum tempo, quem olhar para o terreno, nada verá, exceto o solo revolvido, pequenos montes de terra e uma aparência desértica. O agricultor, entretanto, sabe que aquela cena aparentemente caótica oculta poderosos processos de transformação. Silenciosamente, as sementes começam a interagir com o solo, a água e o calor do Sol. Lentamente, uma nova vida tem início. Tudo isso é invisível para quem mira a terra, mas o agricultor mantém-se inabalável em sua fé. Sem se importar com o que as aparências ou com que pode ser visto na superfície, ele cuida do terreno diariamente, incansavelmente. Esparge água na medida certa. Arranca as ervas daninhas. Afugenta os animais que podem atacar a plantação. Protege-a das intempéries da natureza. Vigia para que pragas não se disseminem. Aduba o solo.
Mesmo sem a garantia da colheita, o agricultor acredita tanto que continua a fazer tudo o que é necessário e tudo o que estiver a seu alcance, para que o máximo de sementes possa brotar, se desenvolver e frutificar. Ele tem consciência de que há fatores críticos que se encontram totalmente fora de seu controle – a seca, a enchente, o vendaval, as pestes e variações bruscas de temperatura... Essa consciência, ao invés de desmotivá-lo, torna-o mais humilde e, ao mesmo tempo, obstinado em fazer a sua parte, no melhor de suas possibilidades.
Desse modo, se as condições climáticas forem favoráveis, ele terá uma superprodução. Se forem razoáveis, ele conseguirá, ao menos, recuperar o seu investimento. Se o clima for desfavorável... bem, o agricultor sabe que essa possibilidade existe e já a sofreu várias vezes, mas ele opta por não incluí-la em suas previsões, pois, se o fizesse, desistiria de seu ofício. E o restante da sociedade passaria fome.
Há vários tipos de agricultor. Dentre eles, um se destaca pela preciosidade das sementes que planta e pelo tempo que elas levam para brotar e frutificar. Essas características do seu cultivo exigem desse tipo de agricultor as mais altas doses de paciência e perseverança. Paciência, muita paciência. Perseverança, muita perseverança. Paciência e perseverança combinadas. Isso sem falar da fé inabalável e da dedicação incansável.
Trata-se do Educador. Seus campos de cultivo são os Corações e as Mentes dos educandos – terrenos férteis, mas cujo preparo e manutenção exigem grande esforço. As sementes que planta são o bom exemplo, a sabedoria e o encorajamento. A água que esparge é a sua palavra, portadora não só de conhecimento, mas também de sentimentos construtivos. O afeto que irradia através de seu olhar, gestos, posturas, do que diz e do que silencia, constitui a luz e o calor que energiza o solo.
Alguns agricultores precisam trabalhar durante semanas, talvez meses, até que chegue o momento da colheita. Já ao Professor, não é dado ver os frutos de seu trabalho. São raras as oportunidades em que ele próprio testemunha o desabrochar dos educandos ou a frutificação de seus ensinamentos, pois as sementes que semeia levam dez, quinze, vinte anos para dar frutos.
Outra característica que distingue o Educador dos demais agricultores: ele planta, mas não lhe cabe colher. Quem colhe é o próprio educando, a sua família e a sociedade como um todo. Por essa razão, o ofício de Educador caracteriza-se pela abnegação. Não qualquer abnegação, mas a legítima, que implica em abnegação de si mesmo, abnegação dos desejos de popularidade e reconhecimento, abnegação dos resultados imediatos de seu trabalho, abnegação da busca por “soluções mágicas”, “atalhos milagrosos” ou “respostas fáceis” aos desafios que enfrenta.
Se o Educador não tivesse tal abnegação, exigiria “garantias prévias” quanto ao resultado de seus esforços, cobraria a possibilidade de participar dos benefícios da colheita. Ninguém pode lhe dar a certeza de que os ensinamentos que semeia encontrarão acolhida entre os educandos, que suas qualidades como educador serão reconhecidas ou valorizadas, que sua dedicação ao ensino será recompensada pelo aprendizado dos estudantes. Este ofício exige, por sua própria natureza, total concentração no processo e sincero desprendimento dos resultados. Em outras palavras, exige entrega.
* Feizi Milani é conferecencista e professor da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB)
feizimilani.blogspot.com
terça-feira, 28 de setembro de 2010
CULTURA DE PAZ CONTRA A VIOLÊNCIA por Feizi Milani
Quem de nós fica tranquilo quando um filho ou filha sai à noite, em busca de diversão nas baladas da juventude?
O medo da violência, ironicamente, leva muitos a clamarem por mais violência para aplacá-la. Como se bombeiros usassem gasolina na luta contra um incêndio.
É o que ocorre quando se opta pela repressão como único (e discutível) antídoto aos crimes que alguns programas sensacionalistas fazem questão de alardear com máximo estardalhaço.
Outros brandem as questões estruturais como justificativa para os crimes. Ou seja, só teremos uma sociedade mais pacífica se e somente se todos os problemas estruturais como fome, falta de saúde e de educação forem solucionados.
Tal crença, contudo, conduz ao imobilismo, à desistência de se encontrar alternativas para a violência. Se formos esperar que toda a estrutura social seja reformada, para só depois agir, estaremos perdendo inúmeras oportunidades de realizar pequenas ações e intervenções pontuais que, somadas, podem resultar em significativas melhorias.
A cultura da paz parece-me mais apropriada, exequível e eficaz. Ela nos convida a aproveitar cada espaço – sala de aula, bar, condomínio, escritório, praça – como um fórum permanente de reflexão e de busca de opções para a construção da paz.
Mas isto funciona mesmo, no dia a dia, em que motoristas param seus carros para brigar porque um teria fechado o outro?
Sim, porque o verdadeiro antídoto contra a violência é a paz. Não há outro. Paz entendida como respeito, diálogo, empatia e participação cidadã. Até porque a forma mais disseminada e frequente de violência é a cometida entre familiares e parceiros íntimos. Logo, parte considerável dos crimes não é cometida por profissionais do submundo, e sim por pessoas comuns, respeitáveis cidadãos que, em determinado momento, perdem a cabeça por situações corriqueiras – uma discussão doméstica sem sentido ou uma provocação na rua.
Um dos melhores lugares para se fomentar os valores da paz é a sala de aula. Para isso, teremos que tornar o ensino cada vez mais atraente e com conteúdo significativo, sintonizado com as necessidades do mundo real e com o mundo virtual das redes sociais.
Nas regiões de baixa renda, é necessário que as escolas reconheçam as condições de vida dos estudantes, considerando situações como a inexistência de mesas, cadeiras e de ambiente para uma prosaica lição de casa. Se não há moradia digna, como exigir que o aluno estude no lar? Até que ponto os cursos de Pedagogia preparam os futuros educadores para lidar com essa realidade e compreender as necessidades de grande parcela dos educandos?
Parecem ser detalhes, mas fazem diferença. Atividades artísticas e esportivas, estudos ao ar livre, jogos, realização de ações sociais na comunidade e uso pedagógico da internet podem mudar a visão que os alunos têm da educação. E, com isso, abrir espaço para a discussão e vivência de temas como a pacificação de corações e mentes.
Não se trata de um movimento rápido, imediatista, com resultados ao final do expediente. É uma mudança cultural, uma revolução real, que trará frutos em médio prazo, pela mudança de atitudes individuais e pela construção coletiva de uma sociedade mais justa, solidária e inclusiva.
Temos que começar logo. Estimular os professores que já ousam introduzir elementos da cultura de paz em suas classes. Não há investimento mais relevante hoje – fortalecer a escola, o professor, o estudante e sua família. Impedir que as comportas da violência transbordem e criar um futuro do qual possamos nos orgulhar.
Mostrar às crianças e jovens que há caminhos, sim, para a solução de conflitos - longe da agressão e criminalidade.
Apontar saídas para a pobreza e exclusão a partir do conhecimento, do trabalho, dos valores humanos e da cooperação social.
Feizi Milani
Salvador, Bahia, Brasil
Cidadão do Mundo comprometido com a transformação pessoal e social. Idealista com os pés no chão. Doutor em Saúde Pública e médico de adolescentes. Professor do Bacharelado Interdisciplinar em Saúde da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB). Empreendedor social e fundador do INPAZ (Instituto Nacional de Educação para a Paz e os Direitos Humanos). Consultor nas áreas de educação e saúde de adolescentes, prevenção de violência, cidadania, ética, formação de lideranças e educação em saúde. Autor de um livro e co-autor de outros onze. Conferencista, tendo ministrado mais de 700 palestras e cursos no Brasil e outros dez países, a um público superior a 30.000 pessoas.
Blog: http://feizimilani.blogspot.com
O medo da violência, ironicamente, leva muitos a clamarem por mais violência para aplacá-la. Como se bombeiros usassem gasolina na luta contra um incêndio.
É o que ocorre quando se opta pela repressão como único (e discutível) antídoto aos crimes que alguns programas sensacionalistas fazem questão de alardear com máximo estardalhaço.
Outros brandem as questões estruturais como justificativa para os crimes. Ou seja, só teremos uma sociedade mais pacífica se e somente se todos os problemas estruturais como fome, falta de saúde e de educação forem solucionados.
Tal crença, contudo, conduz ao imobilismo, à desistência de se encontrar alternativas para a violência. Se formos esperar que toda a estrutura social seja reformada, para só depois agir, estaremos perdendo inúmeras oportunidades de realizar pequenas ações e intervenções pontuais que, somadas, podem resultar em significativas melhorias.
A cultura da paz parece-me mais apropriada, exequível e eficaz. Ela nos convida a aproveitar cada espaço – sala de aula, bar, condomínio, escritório, praça – como um fórum permanente de reflexão e de busca de opções para a construção da paz.
Mas isto funciona mesmo, no dia a dia, em que motoristas param seus carros para brigar porque um teria fechado o outro?
Sim, porque o verdadeiro antídoto contra a violência é a paz. Não há outro. Paz entendida como respeito, diálogo, empatia e participação cidadã. Até porque a forma mais disseminada e frequente de violência é a cometida entre familiares e parceiros íntimos. Logo, parte considerável dos crimes não é cometida por profissionais do submundo, e sim por pessoas comuns, respeitáveis cidadãos que, em determinado momento, perdem a cabeça por situações corriqueiras – uma discussão doméstica sem sentido ou uma provocação na rua.
Um dos melhores lugares para se fomentar os valores da paz é a sala de aula. Para isso, teremos que tornar o ensino cada vez mais atraente e com conteúdo significativo, sintonizado com as necessidades do mundo real e com o mundo virtual das redes sociais.
Nas regiões de baixa renda, é necessário que as escolas reconheçam as condições de vida dos estudantes, considerando situações como a inexistência de mesas, cadeiras e de ambiente para uma prosaica lição de casa. Se não há moradia digna, como exigir que o aluno estude no lar? Até que ponto os cursos de Pedagogia preparam os futuros educadores para lidar com essa realidade e compreender as necessidades de grande parcela dos educandos?
Parecem ser detalhes, mas fazem diferença. Atividades artísticas e esportivas, estudos ao ar livre, jogos, realização de ações sociais na comunidade e uso pedagógico da internet podem mudar a visão que os alunos têm da educação. E, com isso, abrir espaço para a discussão e vivência de temas como a pacificação de corações e mentes.
Não se trata de um movimento rápido, imediatista, com resultados ao final do expediente. É uma mudança cultural, uma revolução real, que trará frutos em médio prazo, pela mudança de atitudes individuais e pela construção coletiva de uma sociedade mais justa, solidária e inclusiva.
Temos que começar logo. Estimular os professores que já ousam introduzir elementos da cultura de paz em suas classes. Não há investimento mais relevante hoje – fortalecer a escola, o professor, o estudante e sua família. Impedir que as comportas da violência transbordem e criar um futuro do qual possamos nos orgulhar.
Mostrar às crianças e jovens que há caminhos, sim, para a solução de conflitos - longe da agressão e criminalidade.
Apontar saídas para a pobreza e exclusão a partir do conhecimento, do trabalho, dos valores humanos e da cooperação social.
Feizi Milani
Salvador, Bahia, Brasil
Cidadão do Mundo comprometido com a transformação pessoal e social. Idealista com os pés no chão. Doutor em Saúde Pública e médico de adolescentes. Professor do Bacharelado Interdisciplinar em Saúde da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB). Empreendedor social e fundador do INPAZ (Instituto Nacional de Educação para a Paz e os Direitos Humanos). Consultor nas áreas de educação e saúde de adolescentes, prevenção de violência, cidadania, ética, formação de lideranças e educação em saúde. Autor de um livro e co-autor de outros onze. Conferencista, tendo ministrado mais de 700 palestras e cursos no Brasil e outros dez países, a um público superior a 30.000 pessoas.
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