Um mundo que morre e outro que nasce
Por
Gabriel Marques
Segundo as teorias que se popularizaram nos últimos anos e que ganharam força nestes últimos meses, o fim do mundo será mesmo agora em 21 de dezembro de 2012. Faltam, portanto, alguns pouquíssimos dias ou apenas algumas horas!
Embora as Escrituras cristãs e de outras religiões falem da ocorrência do apocalipse, no fim dos tempos, as teorias dos últimos meses são baseadas nas interpretações do calendário Maya.
Os
maias viveram na América Central, no período pré-hispânicos e tinham um
calendário bastante preciso, que além de marcar a passagem do tempo, também
previa a ocorrência das estações, de certos eventos que, então, orientavam sua
civilização. O tempo para os Maya era dividido em eras e estas compreendendo
treze períodos chamados ‘baktunes’, de aproximadamente 400 anos cada. O fim de
uma era significava apenas o início de outra, numa visão cíclica e evolutiva;
algo comum a vários outros povos e religiões. A inscrição encontrada num dos
monumentos do sitio arqueológico de Tortuguero, no Sudoeste do México, fazia
menção à data de 4 Ajaw 3 K’ank’in, que segundo os cálculos de diferentes
arqueólogos apontavam para o dia 21 de dezembro de 2012. Isso levou, então, a
um grupo de místicos a vincular tal data a uma visão apocalíptica, mesmo quando
várias outras placas com inscrições descritivas do calendário Maya indique
claramente apenas a renovação das eras, nada tendo a ver com o fim do mundo
físico.
Vários outros fatores, entretanto,
fizeram aumentar as teorias do fim do mundo. Dentre estes estão a aproximação
do asteroide Toutatis – uma imensa rocha espacial viajando em direção ao
planeta terra; a mudança do polo magnético do planeta, a maior ocorrência de
desastres naturais, incluindo tornados e furacões, secas e inundações e
terremotos cada vez mais devastadores. Crescentes são os grupos religiosos
preocupados com o emergir destes sinais, muitos dos quais apontados nas
Escrituras Cristãs como arautos do apocalipse, o fim dos tempos!
O fim dos tempos anunciado seja nas
escrituras cristãs, budistas ou islâmicas, entretanto, não se referem ao fim do
mundo físico, mas à renovação do modo de vida ou de uma nova era nos afazeres
humanos, devido ao aparecimento do Messias ou do Santo Manifestante de Deus.
Como
se vê, todas as profecias indicam que os sinais exteriores na natureza revelam
também as correlatas mudanças internas que deverão ocorrer na vida humana, para
que se ajuste ao novo tempo. Sabidamente as estações do ano têm sua influência
não apenas na natureza, mas também em nossas vidas. Assim, na primavera, as
nuvens derramam suas chuvas, o ar é agradável, o mundo se renova e uma nova
roupagem veste as plantas, aparecendo um novo espírito vivificador.
No verão, com o aumento do calor,
dá-se o crescimento e desenvolvimento das potencialidades ocultas, aparecendo
os frutos e indicando o tempo da colheita. O outono indica uma transição
tumultuosa, na qual árvores antes viçosas e verdejantes murcham, esmaecendo-se
as cores e trazendo pouco a pouco um ar sombrio a terra. Segue-se, então, o
inverno com suas tempestades, nevadas, granizos, frio e morte. Essa sequencia
de claras mudanças no mundo visível não é o fim do mundo, sinalizando apenas o
fim de um ciclo solar ou daquilo que comumente aprendemos a chamar de ano.
O ano ou ciclo solar é
astronomicamente fixado e matematicamente calculado como sendo o tempo da
rotação da terra ao redor do sol. Este período de 365,242199 dias, isto é, 365 dias + 5 horas + 48 minutos + 47 segundos e,
tem sido dividido em nosso calendário ocidental (gregoriano) como tendo 12
meses de aproximadamente 30 dias cada um. O dia tem sido fixado como tendo 24
horas, cada uma delas com 60 minutos e cada um deste, por sua vez, com 60
segundos. Cabe lembrar, entretanto, que existem outros calendários atualmente
em uso no mundo como o judeu (estão no ano 5.773), o islâmico (estão no ano 1.434
) ou o mais recente, o bahá’í (estão no ano 167).
Além desta divisão do ano em meses,
ele está também dividido em estações ou fases (primavera, verão, outono e
inverno), devido aos diferentes efeitos da incidência da luz solar sobre o
planeta, resultantes do eixo de rotação da terra em relação ao plano orbital.
Ainda assim, de maneira diferente do mundo ocidental, onde o ano tem quatro
estações, países como a China possuem cinco estações; a Índia três estações. Já
alguns países africanos apenas duas estações – a das chuvas, período quente e
úmido, e o do cacimbo, estação seca e
mais fresca pela noite. Isso é bem parecido com o clima da região norte e
nordeste do Brasil.
Paralelo
e para além das mudanças no mundo físico encontram-se a ocorrência de ciclos
espirituais, cuja influência sobre a vida dos seres humanos é objeto de estudo
e aprofundamento por todos os movimentos espiritualistas. Aqui, a consciência
de que ciclos espirituais igualmente ocorrem e se renovam é fato consumado. O
aparecimento do Santo Manifestante de Deus ao longo da história humana –
Abraão, Moisés, Zoroastro, Buda, Jesus, Maomé, o Báb, Bahá’u’lláh... –
representam o reaparecimento da primavera espiritual. Nas palavras de
‘Abdu’l-Bahá, o Mestre da doutrina bahá’í, esta estação “é o nascer do Sol da
Realidade. O espírito humano reanima-se, o coração refresca-se e reforça-se, a
alma torna-se mais pura; a existência recebe um novo impulso, a essência do
homem rejubila-se, cresce, progride em virtudes e perfeições.”
Os
fundadores das grandes religiões foram cada um os educadores da infância
coletiva do planeta, agentes de um processo civilizatório, cujos efeitos
cumulativos de suas sucessivas missões trouxeram a humanidade ao ponto atual.
Cada grande religião teve seu período de primavera, verão, outono e inverno
espiritual, antes que uma nova era pudesse ter seu início. O ponto de
referencia atual, na visão bahá’í, situa-se entre o fim do longo e tenebroso
inverno da civilização islâmica e o início da primavera representado pelo
aparecimento de Bahá’u’lláh – o Manifestante da era da maturidade da
humanidade.
Estando,
portanto, no ponto de transição entre duas estações, podemos presenciar sinais
e influências de ambas. Estamos na interface entre o fim de um mundo e o início
de outro. As mudanças serão graduais e não ocorrem da noite para o dia. Assim,
embora no âmbito da nova primavera espiritual já se vislumbre uma ressurreição
universal, um novo período de progresso, de alegria e felicidade da Graça
Divina, este é também um tempo de lamentação, é o dia do juízo, é a hora do
caos e da angústia. Para os estudiosos da astrologia nos encontramos agora na
Era de Peixes, mas na qual já se sente os efeitos visíveis da aproximação da
Era de Aquários – uma era aclamada como a da fraternidade universal, com
acelerados desenvolvimentos nos campos científicos, intelectual, social e
principalmente espiritual.
Outro
aspecto que é preciso levar em conta é o fato de o progresso não se dá apenas
pela repetição continuada de estações, ciclos e eras. O progresso ocorre ao se
aprimorar e avançar o conhecimento, ao se lapidar a aprendizagem individual e
coletiva, num acúmulo sucessivo do conhecimento e do desenvolvimento das
potencialidades humanas. Existem, portanto, estações, ciclos e eras universais
que se renovam e avançam como por elipses ascendentes, nos quais círculos cada
vez maiores de conhecimento ajudam no desenvolvimento do imenso potencial
humano, desdobrando-se e revelando-se em novas capacidades.
Segundo os bahá’ís, “o homem alcançou o grau máximo da
materialidade, e o começo da espiritualidade, ou seja, o fim da imperfeição e o
princípio da perfeição. Está no último grau da escuridão e no começo da luz”.
Por isso, segundo estes, foi dito que “no estado humano são assinalados o fim
da noite e o princípio do dia; isto é, o homem é a soma de todos os graus da
imperfeição e possui também os da perfeição. Fazer este lado predominar sobre
aquele é o que visa o educador em seu esforço de orientar a alma humana.”.
É justamente esta maior iluminação
nos afazeres humanos (vinculada também ao concomitante avanço nos campos da
ciência e da tecnologia) o que tem feito emergir diante de nossa face, isto é,
vir à tona tantas notícias sobre corrupção – ativa e passiva, sobre a
debilidade da justiça nos afazeres humanos, do aumento de casos de racismo e
discriminação e tantas outras agruras pelas quais têm sido expostos os seres
humanos. A escuridão ou estado de imperfeição ou também inconsciência nada mais
é que a falta da luz ou do conhecimento.
Esta nova luz, representada pela nova primavera, cujos raios lançam
pouco a pouco iluminação sobre os afazeres humanos, é o que nos permite ver – numa
escala e clareza nunca antes visto - a cruel realidade que nos rodeia, ao tempo
em que a emergência de uma aspiração por novos padrões de justiça e equidade
ganham força a cada dia.
Um
mundo está mesmo morrendo e outro está nascendo!